segunda-feira, 5 de maio de 2014

RUMO AO ÁRTICO


Sou ateu.
Como tal, não acredito na existência de uma divindade superior. Deus não existe.
Não somos a imagem de um suposto criador. Não existe um criador.

Não acredito na vida após a morte.

Não existe um propósito para estarmos aqui.
A vida é o resultado de uma seqüência extremamente rara de eventos. 
A possibilidade de vida inteligente é tão rara, mas tão rara que pode, sim, ser considerada um milagre.

Leigos e religiosos, presos em seus dogmas, não são capazes de entender, na sua plenitude, o esplendor desse fenômeno que é a possibilidade da existência de vida inteligente. 

Estamos de passagem nesta forma de indivíduos capazes de ver, sentir e pensar.
Esta passagem é curta.
Por não ser valorizada e cultuada, como o fenômeno mais espetacular do Universo, não paramos para refletir e regozijar pelo privilégio de ser e estar aqui.

Uma jornada sabática serve para olhar para tras, conectar os pontos e registrar o entendimento da oportunidade do ter estado aqui e agradecer por isto.

Chegou meu momento de fazer esta jornada.
Sozinho, como deve ser feita…

Para uma viagem de ponderação não é necessário visitar terras estrangeiras.
Mas, na minha terra não gosto do que vejo. 
O que vejo me deixa triste e não consiguiria refletir direito.

Nesta jornada é preciso sentir a alegria de viver.

Uma jornada sabática não é um castigo, um martírio, um auto-flagelo. 
É simplesmente um momento destinado a uma jornada interior. Um afastamento do dia-a-dia. Um rito de passagem introspectivo e solitário, um marco, uma comemoração por existir.

A minha levará 84 dias.
Bem, este é o plano.  
Conseguirei? 

Se tudo der certo, devo partir de Lindlar, Alemanha, de triciclo, no dia 06/05/2014.
Pretendo dormir sob o sol da meia-noite no extremo norte da Noruega, já no círculo polar ártico.
Um dia com 24 horas de luz do Sol é um símbolo de tributo à vida!

Como a nossa vida, os caminhos que vou percorrer serão tortuosos. 
Mas, o caminho que é importante. 
A chegada é o registro da consciência que tudo acaba. É o momento de agradecer pela oportunidade da jornada retornando ao ponto de partida.

O mais difícil será ficar longe das pessoas que eu amo.

(Ma, você me entendeu. Obrigado por isto).

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