12-A busca pessoal por significado e o nada
NASBINALS A ST-CHÉLY-D'AUBRAC
18 de Abril - tempo frio - 3 a 10 graus - céu azul
A manhã tinha um brilho gélido quando Bernardo e Gabriel deixaram Nasbinals, preparados para enfrentar os 17,4 km que os separavam de Saint-Chély-d’Aubrac.
O silêncio cortante da manhã era interrompido apenas pelo som rítmico dos bastões de caminhada perfurando a camada fina de neve que cobria a trilha. A terra branca sob seus pés brilhava com o reflexo do sol nascente, criando um cenário idílico e silencioso enquanto a dupla avançava.
Depois de três horas de caminhada, com o frio mordendo seus rostos e os pulmões pulsando com o ar fresco, eles finalmente chegaram ao platô de Aubrac. Foi então que a silhueta da Domerie d'Aubrac emergiu no horizonte, como um presente divino no meio da vastidão.
Este antigo hospital de peregrinos, originalmente construído em 1060, fornecia abrigo e assistência àqueles que caminhavam rumo a Santiago de Compostela. As suas grossas paredes de pedra ainda permanecem, um eco imponente de tempos passados, onde fé e solidariedade eram tangíveis.
Hoje, mesmo parcialmente em ruínas, a Domerie d’Aubrac conta essa história através de suas pedras, um testemunho da importância da peregrinação e da bondade humana ao longo dos séculos.
A pequena vila de Aubrac oferece mais que história. É um convite aos sentidos, famoso por sua gastronomia, especialmente queijos locais e o icônico Aligot, um purê de batatas cremoso misturado com queijo.
Bernardo e Gabriel, atraídos pela atmosfera tranquila do lugar, permitiram-se uma pausa para apreciar iguarias regionais. Com o Aligot aquecendo seus corpos e energizando-os para o caminho adiante, os dois se embrenharam na contemplação das paisagens montanhosas que os cercavam, majestosas e silenciosas.
No entanto, o trecho final do dia se avizinhava como um gigante difícil de domar. A descida de 500 metros até Saint-Chély-d’Aubrac revelou-se um desafio árduo para Gabriel, cujos joelhos já ressentiam o esforço acumulado. Os caminhos, estreitos e irregulares, exigiam atenção e prudência a cada passo. As pedras soltas e os declives acentuados impostores pressionavam incansavelmente suas articulações doloridas.
Mesmo que as vistas panorâmicas oferecessem um consolo visual, expostas em toda a sua glória sob o céu vasto, elas não diminuíram a intensidade da dor que acompanhava cada passo de Gabriel. Determinado a não se deixar vencer, ele seguiu adiante, com Bernardo ao seu lado, encorajando-o com palavras de apoio e pausas estratégicas.
A chegada a Saint-Chély-d’Aubrac foi uma vitória silenciosa, marcada pela visita à encantadora Igreja de Saint-Chély-d’Aubrac. Tanto a arquitetura quanto o ambiente prometeram momentos de paz e reflexão.
Finalmente, eles encontraram refúgio no acolhedor Chambre d’Hôtes La Carderie. Ali, sob o teto de um lar temporário, Gabriel e Bernardo se permitiram um descanso merecido e um jantar animado regado a 2 taças de vinho.
pingue-pongue de 18/04: A busca pessoal por significado e o Nada
“Caro Bernardo, gostei de sua abordagem de ontem sobre a premissa de que verdadeira transformação nas pessoas é impulsionada mais pelas emoções do que por dados ou análises racionais.
Nessa linha gostaria de compartilhar o pensamento do filósofo francês, Jean-Paul Sartre, que em seu livro "O Ser e o Nada", explora a ideia de que o mundo em si não possui qualquer propósito ou significado intrínseco.
Esta perspectiva é uma das bases do existencialismo, que sustenta que a vida não tem sentido predeterminado e que cabe aos indivíduos criar e atribuir significado às suas próprias existências.
Sartre argumenta que os seres humanos existem num universo indiferente e sem propósito, o que pode ser visto como inquietante, pois nos deixa sem uma direção ou um destino fixo.
No entanto, essa mesma ausência de um propósito inerente é o que liberta o ser humano para buscar e criar seu próprio significado.
Com essa liberdade vem a responsabilidade de não apenas escolher nossos próprios valores e objetivos, mas também de aceitar as consequências dessas escolhas.
No entanto, a dinâmica das mídias sociais, das religiões e de várias instituições pode, muitas vezes, entrar em conflito com esta visão sartreana de liberdade.
Essas entidades, ao perseguirem seus próprios interesses, têm o poder de manipular informações e influenciar percepções, o que pode limitar a liberdade de escolha individual.
As mídias sociais, por exemplo, através de algoritmos e curadoria de conteúdo, frequentemente guiam os usuários para pensamentos e comportamentos que servem a seus interesses comerciais.
De forma semelhante, certas instituições religiosas e organizações podem propor roteiros de vida e crenças que, em vez de liberarem, confinam indivíduos em sistemas de pensamento fechados.
Neste contexto, a responsabilidade que Sartre coloca sobre o indivíduo ganha nova relevância.
Cabe a cada um de nós a tarefa de questionar, investigar e discernir a informação que nos é apresentada para que possamos exercer nossa liberdade de maneira plena.
Isso implica em um esforço consciente e contínuo para desafiar narrativas impostas, buscar conhecimento e, sobretudo, criar um sentido que ressoe genuinamente com os próprios valores e aspirações.
Assim, em meio às pressões externas das mídias sociais e outras influências, a busca por um significado autêntico se revela como uma jornada complexa, mas vital.
É um chamado para que usemos nossa liberdade não apenas como um direito, mas como um dever de viver de forma verdadeira e significativa, em um mundo onde tantas forças tentam ditar quem devemos ser e como devemos pensar.
Em resumo, a busca pessoal por significado se torna uma parte fundamental da experiência humana para garantir a própria sobrevivência da espécie frente às inevitáveis mudanças do meio ambiente.
Prezado Bernardo, esta jornada sabática tem sido profundamente reveladora para mim. Sou grato por você participar comigo desta trajetória de autodescoberta”.
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