quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Capítulo 16 - O SONHO

 16-O sonho

ESTAING A SÉNERGUES via GR6 e GR65

23 de Abril - nublado/chuva intermitente - 12 graus

Bernardo sempre se preocupou com os detalhes de suas caminhadas, especialmente quando a trilha era compartilhada com amigos. 

Ao planejar a caminhada até Sénergues, ele refletiu longamente sobre a melhor rota a seguir. Embora a GR65 fosse o caminho tradicionalmente mais percorrido, a GR6 oferecia uma alternativa igualmente fascinante, com seus próprios encantos e desafios. 


    A preocupação com o joelho de Gabriel pesou na decisão de Bernardo. Em dias de chuva, devido as subidas e descidas íngremes, este trecho da GR65 era recomendada apenas para os mais experientes. 

Optar pela GR6, passando por Compuac, era prudente e, além disso, ainda preservava a promessa de belas vistas, com pouca presença de asfalto, que ambos os caminhos garantiam.

  Após caminharem 11,8 quilômetros, chegam a Compuac, um vilarejo acolhedor que parecia ter parado no tempo. 

Lá, encontraram um merecido descanso no Le Bristot, o único restaurante da cidade. Foi ali que conheceram Francesco, um peregrino italiano que, à primeira vista, causou a impressão de ser um padre franciscano devido aos seus trajes pouco usuais. No entanto, logo perceberam que Francesco era apenas um entusiasta da simplicidade e da vida de São Francisco.

Em ocasiões como essa, é comum os peregrinos trocarem experiências e informações sobre as trilhas, e não foi diferente dessa vez. Bernardo, Gabriel e Francesco conversaram animadamente como velhos conhecidos. 

Gabriel, sempre solícito, ofereceu a Francesco um COMPEED, um curativo tipo Band-Aid específico para bolhas, essencial para qualquer peregrino. Esse pequeno gesto marcou o início de uma nova amizade. 

Antes de se despedirem da cidade, fizeram uma visita ao único monumento histórico local: a imponente igreja do século XVII


    Os 14 km entre Compuac e Sénergues foi acompanhado por uma chuva intermitente, mas isso não foi suficiente para desfazer a alegria dos três peregrinos. O bom humor de Francesco iluminava o caminho, mantendo o espírito do grupo elevado apesar do clima.


Sénergues com uma população de 438 habitantes, oferece um vislumbre encantador da história e cultura francesas. No coração da cidade encontra-se o majestoso Castelo de Sénergues, datado do século XIII, que pertence à mesma família desde sua construção.

Este castelo, aberto ao público, permitiu que os 3 peregrinos fizessem uma viagem ao passado enquanto exploraram suas estruturas antigas e aprendem sobre as vidas de seus antigos moradores.

A torre do castelo erguida por volta de 1.385 por Aymeric de Senergues, servindo como um refúgio seguro para os habitantes durante a tumultuada época da Guerra dos Cem Anos, impressionou sobre maneira Francesco.  




Segundo Gabriel: "Esta estrutura simboliza a resistência e engenhosidade da época além de oferecer uma vista deslumbrante das paisagens do entorno. Amei!".

A igreja local, apesar de ser é um tesouro para os amantes da história e da arte sacra e abrigar relíquias que datam dos séculos XI e XIII, não impressionou Bernardo. Para amenizar a situação, Gabriel falou ao pé do ouvido de Francesco: “Não leve ao pé da letra o que Bernardo fala. Ele é uma pessoa extremamente cética, o que o leva a interpretar o mundo através de uma lente estritamente lógica e científica. Como ateu, não compartilha da mesma sensibilidade espiritual que muitos de nós encontramos em obras de arte religiosas.” 

Naquele fim de tarde, pouco antes de se hospedarem no albergue L'Ancien Post,   Gabriel sentiu que a escolha da variante GR6, além de acertada, havia enriquecido ainda mais a experiência da peregrinação, tanto que convidou Francesco para participar da sessão pingue-pongue após o jantar.

Pingue-Pongue 23/04 - O Sonho

Francesco é questionado porque está fazendo o Caminho. Sua resposta surpreendeu Bernardo positivamente:

"Às vezes, parece que a escuridão vai nos engolir de vez.  Tanto ódio, tanta maldade...  As bombas caindo, crianças chorando, casas destruídas...  O coração aperta, né?  A gente se pergunta se o sofrimento vai acabar algum dia.

Mas aí, vem uma força lá de dentro, uma fé inabalável, que sussurra: “Acredite no seu sonho!".  Um sonho de paz, de união, de amor.  Um sonho onde o ódio não tem vez, onde a maldade desaparece como fumaça ao vento.  Um sonho onde os sorrisos voltam a brilhar nos rostinhos inocentes das crianças, onde as casas ficam em silêncio, sem o estrondo das bombas.

No sonho não há fronteiras, não há religião.  Turbante ou quipá, véu ou nenhum véu...  Não importa!  A gente é tudo filho(a) do mesmo Pai,  criaturas amadas por Ele.  

  Cristo, Buda, Alá, Krishna, Oxum com  suas vozes se misturando em uma só melodia de paz. Cristãos, Budistas, Muçulmanos, Hindus, Candomblecistas... todos unidos… 

Imagine um coral celestial cantando aqui na Terra, um reino do céu que a gente constrói com as nossas mãos, com o nosso amor, com a nossa fé.

Eu tenho esse sonho! Por isso estou fazendo o Caminho vestido como um frade franciscano. As pessoas me olham com ar de surpresa, alguns me cumprimentam outros ignoram, mas não importa. Eu acredito que todos nós, no Caminho, estamos juntos plantando sementes de esperança, regando-as com compaixão e fé. 

Um dia esse sonho se tornará realidade.  

Porque o amor vai vencer.

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Capítulo 16 do meu ebook:


Peregrinação de pensamentos

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