Eu e Motta, ainda jovens fizemos um pacto,
Tão simples quanto o correr do sangue.
Não precisávamos de palavras grandiosas,
Apenas da verdade de estarmos juntos.
Bebíamos cerveja e falávamos de coisas,
Como quem olha o céu e vê nuvens passar.
A música nos embalava, natural como o vento,
Sem precisarmos entender, só sentir.
Pensávamos na velhice como quem pensa no amanhã,
Sem pressa, sem medo, apenas existindo.
A despedida veio como vem a noite,
Inesperada, mas parte do que é real.
Escolhemos músicas para o fim,
Como quem escolhe flores num campo.
Mas a morte não segue nossas listas,
Ela vem como vem a chuva ou o sol.
Meu amigo partiu antes da música tocar,
Como uma folha que cai antes do outono.
Sigo, pois seguir é o que fazemos,
Como o rio que corre sem questionar.
Vivo cada dia como se fosse único,
Não por medo, mas por ser verdade.
A música da vida toca sempre,
Basta estar atento para ouvi-la.
Montanari
Lembrando do nosso acordo de quem adoecesse gravemente primeiro deveria fazer o outro ouvir sua 'música escolhida' para aquele momento final…
Mesmo que estivesse com Alzheimer ou em coma” e nada lembrasse.
Ele havia escolhido “Gloria" de Vivaldi e eu Réquiem de Mozart. Infelizmente, sua morte repentina não permitiu cumprir minha parte do trato…
