quinta-feira, 16 de março de 2023

A ilusão da realidade; o real pode não ser bem aquilo que você pensa

 Neste artigo, o jornalista Rubens Macouff reflete sobre as certezas que as pessoas possuem e a percepção que elas tem da realidade vivida.


Redação Jornal Cidade Publicado em 16 abr, 2021

Rubens Macouff




Na versão judaico-cristã da história da criação do mundo, Adão e Eva estão em um jardim e uma serpente convence a moça, que em seguida convence seu parceiro a comer do fruto do conhecimento que Deus os havia proibido de provar. Você se lembra qual foi o primeiro sentimento que eles tiveram quando comeram do fruto do conhecimento?


Orgulho, alegria, excitação? Não. Sentiram vergonha. Vergonha da própria nudez. O mundo que vivemos depende da nossa interpretação, do chamado processo de significação, que por sua vez é feito com base no conhecimento que temos. Quanto menos conhecimento se tem, mais fácil é fazer uma interpretação. Sem muitas varáveis, é fácil ter certeza. É preto no branco.

Segundo a história bíblica, Adão e Eva estavam nus antes de comerem do fruto, mas só sentiram constrangimento por isso, após adquirirem um pouco mais de conhecimento. Note que a realidade em si não mudou. O que mudou foi a percepção que eles dois tinham sobre a realidade após adquirirem mais conhecimento. Certezas são mais confortáveis do que incertezas, não há dúvida disso. O problema é que quando adquirimos uma certeza, paramos de fazer perguntas e são justamente as perguntas, e não as respostas, que fazem a nossa sociedade avançar e nos fazem crescer como pessoas.

No fim das contas, as certezas servem como um refúgio.


Foto: A Queda do Homem, Ticiano, 1550. Foto: Portal Rubens Macouff/ Reprodução