quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Ode a Bach, o Divino

Notas celestiais emanam do ar,

Eu, ateu confesso, sinto-me tremer.

Bach, mestre supremo, arquiteto de sons,

Ergue catedrais sonoras onde antes havia vazio.


A Paixão Segundo São Mateus ecoa,

E o universo parece se reordenar.

Que ironia! Um ateu vislumbra o divino

Nas harmonias tecidas por mãos mortais.


Teólogos e filósofos, em vão buscaram,

O que Bach revela em cada compasso.

A prova da existência do indescritível

Jaz nas partituras, não nos tratados.


O primeiro acorde, um Big Bang musical,

Lágrimas brotam, involuntárias.

Serei eu testemunha de um milagre sonoro?

Ou é esta a face oculta do cosmos se revelando?


O auditório alemão, em silêncio sepulcral,

Absorve cada nota como comunhão sagrada.

Nem censura, nem aplauso - apenas devoção.

A música de Bach, um evangelho sem palavras.


Beethoven disse: "Bach é Bach".

Eu digo: Bach é o pulsar do universo.

Herege ou crente, pouco importa -

Diante de sua música, todos nos curvamos.


Sem Bach, a vida seria um ruído sem sentido,

Um caos sem harmonia, uma sinfonia inacabada.

Eu, ateu apaixonado, encontro minha religião

Nos concertos e cantatas do mestre de Leipzig.


Que divindade é esta que nasce do som?

Que fé é esta que brota de minhas dúvidas?

Bach, tu és o paradoxo divino,

O deus que um ateu pode adorar sem culpa.

Montanari

05/04/2025