Notas celestiais emanam do ar,
Eu, ateu confesso, sinto-me tremer.
Bach, mestre supremo, arquiteto de sons,
Ergue catedrais sonoras onde antes havia vazio.
A Paixão Segundo São Mateus ecoa,
E o universo parece se reordenar.
Que ironia! Um ateu vislumbra o divino
Nas harmonias tecidas por mãos mortais.
Teólogos e filósofos, em vão buscaram,
O que Bach revela em cada compasso.
A prova da existência do indescritível
Jaz nas partituras, não nos tratados.
O primeiro acorde, um Big Bang musical,
Lágrimas brotam, involuntárias.
Serei eu testemunha de um milagre sonoro?
Ou é esta a face oculta do cosmos se revelando?
O auditório alemão, em silêncio sepulcral,
Absorve cada nota como comunhão sagrada.
Nem censura, nem aplauso - apenas devoção.
A música de Bach, um evangelho sem palavras.
Beethoven disse: "Bach é Bach".
Eu digo: Bach é o pulsar do universo.
Herege ou crente, pouco importa -
Diante de sua música, todos nos curvamos.
Sem Bach, a vida seria um ruído sem sentido,
Um caos sem harmonia, uma sinfonia inacabada.
Eu, ateu apaixonado, encontro minha religião
Nos concertos e cantatas do mestre de Leipzig.
Que divindade é esta que nasce do som?
Que fé é esta que brota de minhas dúvidas?
Bach, tu és o paradoxo divino,
O deus que um ateu pode adorar sem culpa.
Montanari
05/04/2025

