- "Você aceita uma caixa de chocolate BIS"
- "Com certeza, gente boa".
Esticando o braço entreguei a caixa e ele agradeceu com um “Deus lhe pague”.
- "De onde você é ?” - perguntei para aquele senhor que aparentava ter uns 60 anos.
- "Governador Valadares". Respondeu enquanto comia um BIS.
- "Você tá bem longe de casa!"
- “Gente boa e eu já tive mais longe, nos Estados Unidos!."
- "Uau… o que aconteceu”?. Perguntei sem pensar.
- "Faiz" muito tempo, uns 30 anos, não deu certo. Voltei e vim tentar a vida em São Paulo.
- E como acabou morando na rua?
- Pisei na bola, fiz muitas bobagens e sou “homiless" há mais de 15 anos…
Não perguntei que “bobagens" ele tinha feito, apesar de ter ficado curioso…
- “Dureza". (Não sabia o que dizer).
- "Gente boa, pega um" ! E joga um BIS para mim.
Peguei, desembrulhei, levantei a máscara e coloquei na boca e logo em seguida abaixei a máscara. (Mesmo nas minhas caminhadas pelas ruas de Santo André eu ando de máscara).
- “Colega, obrigado pelo BIS. Tenho que ir. “
- “Vai com Deus”.
Lá fui eu ouvindo Bach e pensando se eu estivesse no lugar dele… sensação de vazio, de solidão e de incompreensão… provavelmente estaria sentindo o que Fernando Pessoa escreveu em Tabacaria:
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.