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domingo, 12 de outubro de 2025

Além do Cargo

 


Eu,  peregrino metido a poeta, acredito que nossa essência transcende as exigências profissionais. Não somos meras engrenagens em uma máquina, programadas para executar tarefas. Somos seres complexos, dotados de consciência e emoções, que anseiam por compreender o significado profundo da existência.

Em algum momento da jornada, percebemos que a verdadeira realização vai além do sucesso profissional ou financeiro. O vazio existencial que muitos experimentam não pode ser preenchido apenas com atividades frenéticas, prazeres efêmeros ou ambições materiais.

A maioria das pessoas atravessa a vida sem desvendar seu propósito maior, sem explorar as camadas mais profundas do ser. O ministro Barroso parece ter compreendido que o caminho para a plenitude reside no autoconhecimento, na introspecção e no crescimento pessoal, com sua declaração:

"Sinto que agora é hora de seguir outros rumos. Nem sequer os tenho bem definidos, mas não tenho qualquer apego ao poder e gostaria de viver um pouco mais da vida que me resta sem a exposição pública, as obrigações e as exigências do cargo, procurando focar em temas como espiritualidade, literatura e poesia…"

É um convite para todos nós: olharmos para dentro, questionarmos nossas prioridades e buscarmos o sentido mais elevado para nossa existência. Só assim poderemos verdadeiramente viver, e não apenas passar pela vida.

Montanari

Outubro 2025


terça-feira, 19 de abril de 2016

Chegou minha hora de partir…

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Semana passada fui ao Sírio visitar meu amigo Jonas.
Confesso que não consegui conter as lágrimas quando o vi. 
Estava muito magro, abatido mas, sereno… “tudo equacionado".
  
O câncer de pâncreas roubara aquele brilho do seu olhar, aquela inquietação de quem tem sempre muito a fazer… mas, não roubou seu senso de humor e seu raciocínio lógico:

“Chegou minha hora de partir… logo, logo, você vai ouvir o 2o movimento da 3a por mim… Exatamente como o velho Francesco te ensinou…”
Esse era o ritual que praticávamos quando ficávamos sabendo que alguém querido se foi: 
Ouvir o 2o movimento da 3a Sinfonia de Beethoven enquanto pensamos nessa pessoa.

Jonas era um pouco mais alto do que eu, forte, jovem como eu… Tínhamos muito em comum. Havíamos trabalhado na mesma empresa. Compartilhávamos os mesmos valores. Ríamos  como crianças quando Motta questionava "como dois ateus podem gostar tanto de música sacra…”. 

Motta foi o primeiro do grupo dos 4 a partir. Era o único religioso: Metodista. A cirrose o levou… Motta teve uma vida muito ativa, sempre intensa, sempre no limite. Nunca foi feliz nos seus casamentos, mas era uma pessoa muito especial. Nós o adorávamos… 

Depois, Fernando, o “santo" do grupo. Sua vida era lutar por uma causa. Sempre achava uma que justificava sua existência. Eu gostava muito de nossas conversas que sempre envolviam Fernando Pessoa…

Agora Jonas, o considerado gênio do grupo. O mais frio e calculista. Talvez, o único com o pé no chão… Jonas, estou, nesse momento, ouvindo Beethoven por você. Não consigo conter as lágrimas… 
“Por que?” diria você. “Não sei, diria eu. A música me afeta… essa, mais do que todas…”

Quando estiver chegando minha hora (espero que esteja muito distante, pois tenho muitas viagens a fazer),  quero meu iPod e meu fone de ouvido. Quero partir ouvindo minhas músicas… 

Ah, se as pessoas soubessem como tudo passa tão rápido… 

Hora de ouvir Vivaldi, in Memoria Aeterna (Gloria, RV 597):
In memoria aeterna erit justus; 
ab auditione mala non timebit.
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