Em 1968, após a morte de Martin Luther King, a professora Jane Elliot de Riceville (uma cidadezinha do interior de Iowa, cuja população na sua maioria era branca e cristã) realizou um experimento interessante com seus alunos da 3a série.
Ela afirmou para a classe que os alunos de olhos azuis eram superiores, mais inteligentes e melhores que os de olhos castanhos. Estabeleceu privilégios para as crianças de olhos azuis, como por exemplo ficar mais tempo no recreio e ter exclusividade no uso dos brinquedos do playground, ao mesmo tempo passou a ser mais rigorosa com as crianças de olhos castanhos. Identificou as de olhos castanhos com um grande colar de tecido colorido para serem vistos de longe. Determinou que estas crianças não poderiam mais brincar com as de olhos azuis.
Na sala de aula usou todas as oportunidades para reforçar que as crianças de olhos azuis eram melhores, mais inteligentes e mais comportadas.
O que aconteceu?
As crianças de olhos azuis passaram a se sentir superiores e começaram a menosprezar as crianças de olhos castanhos. Uma das meninas, que usava óculos, no dia seguinte foi à escola sem eles para realçar seus olhos azuis...
A visão estereotipada da realidade é extremamente danosa à sociedade.
Durante o nazismo um ministro luterano disse: “Quando eles se voltaram contra os judeus, eu não era judeu e não fiz nada. Quando se voltaram contra os homossexuais, eu não era homossexual e não fiz nada. Quando se voltaram contra os ciganos, eu não era cigano e não fiz nada. Quando se voltaram contra mim, não havia ninguém para me defender...”.
Interessante que este comportamento de “a injustiça não está acontecendo contra mim, vou ficar na minha” foi observada no experimento.
As pessoas normalmente escolhem as situações que aceitarão ou rejeitarão. Elas podem mudar a situação por suas ações, influenciar outros na sua esfera social, e transformar o ambiente de muitas maneiras.
Somos agentes ativos com certa capacidade de influenciar o curso dos eventos que afetarão nossas vidas e moldar nossos destinos. Nosso comportamento e o da própria sociedade são afetados por fatores biológicos, mas principalmente por práticas e valores culturais. O ímpeto de adotar certo tipo de comportamento não vem de certo tipo e indivíduo, e sim de uma característica do ambiente.
O Poder do Contexto afirma que o comportamento é uma função do contexto social.
Atualmente, sabe-se que as situações sociais (regras, cargos, pressão do grupo, identidade grupal, presença de autoridade, símbolos de poder, pressão de tempo, estereótipos, semântica) exercem muito mais poder sobre as ações humanas do que tem sido reconhecido pelo público em geral.
Hartshorne e May constataram que a honestidade não é um traço fundamental de caráter. Honestidade sofre uma considerável influência da situação.
Sob a ótica desta teoria não devemos olhar o indivíduo como aquele que detém o controle exclusivo de seu comportamento, que age com vontade própria e, portanto é o único responsável por toda e qualquer ação sua. A realidade é menos romântica do que gostaríamos!
Fazendo um paralelo, posso inferir que o comportamento de nossos políticos de Brasília se parece com o das crianças de olhos azuis, durante o experimento!
O ambiente externo, “a sala de aula Brasília” está tão impregnada de práticas e valores que estimula nossos políticos a acreditarem que são “superiores, diferentes e especiais”.
Não vêem nada de errado em colocar dinheiro na meia ou na cueca. Acreditam que vamos engolir mentiras deslavadas como “compra de panetones” ou “não ter dinheiro no exterior” ou que seus bens patrimoniais cresceram enormemente por serem “bons empreendedores”...
Quem tem o direito de julgá-los? A final são políticos e “têm olhos azuis”.
Precisam de foro privilegiado!
E a população? Vai continuar tendo o mesmo comportamento complacente e alienado do ministro luterano?
A própria teoria do Contexto dá a solução:
PARA SE CRIAR UM MOVIMENTO CONTAGIANTE (e mudar esta situação) É PRECISO CRIAR VÁRIOS PEQUENOS MOVIMENTOS.
A internet é o mecanismo para o alastramento de novas idéias e informações, de uma pessoa ou pequenos grupos, para toda a sociedade. Só assim atingiremos massa crítica suficiente para abolir o preconceito, a corrupção, eliminar estereótipos e pressionar entidades a adotarem práticas éticas em seus ambientes.
O Brasil tem salvação!