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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

NUNCA CHEGAREMOS LÁ!

 




Eu e a Marlene percorremos a trilha Pieterpad (O CAMINHO DE PEDRO), uma das 38 trilhas de longa distância PARA SE FAZER A PÉ, na Holanda.

Cada trilha tem seu livro-guia de aproximadamente 180 páginas, com mapa detalhado, pontos interessantes, restaurantes e locais recomendados para hospedagem. 

De campings a pequenos hotéis, incluindo as “guests houses” (casas de famílias cadastradas que recebem os “andarilhos”). Tudo com o padrão holandês de organização!

Pieterpad, que tem 488 km, cruza a Holanda de Norte a Sul. 

Trecho plano que não oferece dificuldade, mesmo para aqueles que não estão acostumados a longas caminhadas. 

Um passeio magnífico e inesquecível.

Para se conhecer a verdadeira Holanda, a recomendação é que se faça esta trilha em 27 dias hospedando-se em “guest houses”. 

Não há motivos para se preocupar com a segurança ou com o risco de se perder. O trajeto é bem sinalizado e fartamente documentado pelo livro-guia da Nivon, infelizmente, só disponíveis em holandês...

Numa terça-feira nos hospedamos num sobrado de um casal de quase 80 anos. Na parte de cima ficavam os 2 quartos que eles alugavam para os caminhantes. No corredor, entre os quartos, havia uma mesinha forrada com uma toalha branca rendada e ao lado uma geladeirinha. Sobre a mesa alguns muffins, chocolates, um abridor, uma lista de preços e uma caixinha de madeira com moedas.

A ideia era você se servir de cerveja, água ou refrigerante da geladeira, ou das guloseimas sobre a mesa, verificar o preço na lista e deixar o dinheiro na caixinha. Se precisasse havia moedas para o troco...

Eles nos deram a chave da porta da sala, caso quiséssemos sair e chegar tarde, pois dormiriam às 10 da noite. 

Observação importante: 

Nunca tinham nos vistos. Éramos 2 mochileiros, brasileiros, fazendo Pieterpad...

“Vocês estão convidados para tomar café conosco amanhã às 8 horas da manhã...”.

Ficamos em muitas “guest houses”. Cada uma com uma história. Numa delas nosso anfitrião (também idoso) era observador e estudioso de pássaros. Tinha no hall, uma estante, com dezenas de esqueletos de pequenas aves que nos foram, detalhadamente, apresentados...

Em outra dormimos numa cama de madeira com dossel, tipicamente holandesa do século XVII, feita pelo proprietário... Mais parecia um berço gigante, uma caixa com portas laterais...

Em outra subimos no telhado, a convite do proprietário, para observar o vilarejo...

Eu questionava Marlene:  “Quando chegaremos a esse estágio?”.

Me considero um otimista, mas sinceramente, vejo que perdemos o bonde da história: 

CRESCEMOS DEMAIS SEM INVESTIR EM EDUCAÇÃO. 

O pior é que continuamos a não entender a importância da educação para o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida.

Os escândalos em nossas instituições públicas, mostrados diariamente pela mídia, só confirmam que nossos valores se deterioram ano após ano.

Nossos políticos demagogos, comediantes e cínicos, frutos de uma sociedade subdesenvolvida, são patéticos.

Pastores e templos caça-níqueis se proliferam na velocidade do crack.

Em quem confiar?

Quando, no Brasil, um casal de idosos que mora sozinho poderá receber, COM TRANQUILIDADE, 2 mochileiros desconhecidos?


sábado, 11 de setembro de 2010

O Caminho de Pedro, Pieterpad, é somente um deles...


Nunca chegaremos lá!

“Somos maiores, temos mais atrações naturais e muita coisa bonita para ver... sem contar a diversidade regional... porém, imagine o que seria caminharmos sozinhos pelo cerrado, pela mata atlântica, pelo pantanal ou pela floresta amazônica...”.

Marlene não parava de fazer comparações, enquanto fazíamos Pieterpad (O Caminho de Pedro), uma das 38 trilhas de longa distância para se percorrer a pé, na Holanda.

Todas excelentemente sinalizadas e documentadas!

Cada trilha tem seu livro-guia de aproximadamente 180 páginas, com mapa detalhado, pontos interessantes, restaurantes e locais recomendados para hospedagem. De campings a pequenos hotéis, incluindo as “guests houses” (casas de famílias cadastradas que recebem os “andarilhos” e oferecem café da manhã). Tudo com o padrão holandês de organização!

Pieterpad, que tem 488 km, cruza o país de Norte a Sul. Trecho plano que não oferece dificuldade, mesmo para aqueles que não estão acostumados a longas caminhadas. Um passeio magnífico e inesquecível.

Para se conhecer a verdadeira Holanda, a recomendação é que se faça esta trilha em 27 dias hospedando-se em “guest houses”. Não há motivos para se preocupar com a segurança ou com o risco de se perder. O trajeto é bem sinalizado e fartamente documentado pelo livro-guia da Nivon, infelizmente, só disponíveis em holandês...

Numa terça-feira nos hospedamos num sobrado de um casal de quase 80 anos. Na parte de cima ficavam os 2 quartos que eles alugavam para os caminhantes. No corredor, entre os quartos, havia uma mesinha forrada com uma toalha branca rendada e ao lado uma geladeirinha. Sobre a mesa alguns muffins, chocolates, um abridor, uma lista de preços e uma caixinha de madeira com moedas.

A ideia era você se servir de cerveja, água ou refrigerante da geladeira, ou das guloseimas sobre a mesa, verificar o preço na lista e deixar o dinheiro na caixinha. Se precisasse havia moedas para o troco...

Eles nos deram a chave da porta da sala, caso quiséssemos sair e chegar tarde, pois dormiriam às 10 da noite. Observação importante: Nunca tinham nos vistos. Éramos 2 mochileiros, brasileiros, fazendo Pieterpad...

“Vocês estão convidados para tomar café conosco amanhã às 8horas da manhã...”.

Ficamos em muitas “guest houses”. Cada uma com sua história. Numa delas nosso anfitrião (também idoso) era observador e estudioso de pássaros. Tinha no hall, uma estante, com dezenas de esqueletos de pequenas aves que nos foram, detalhadamente, apresentados...

Em outra dormimos numa cama de madeira com dossel, tipicamente holandesa do século XVII, feita pelo proprietário... Mais parecia um berço gigante, uma caixa com portas laterais...

Em outra subimos no telhado, a convite do proprietário, para observar o vilarejo...

Marlene acredita que nunca chegaremos ao estágio em que estão.

Sou otimista, mas sinceramente, também vejo que perdemos o bonde da história. Crescemos demais sem investir em educação. O pior é que continuamos a não entender a importância da educação para o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida.

Os escândalos em nossas instituições públicas, mostrados diariamente pela mídia, só confirmam que nossos valores se deterioram ano após ano.

Nossos políticos demagogos, comediantes e cínicos, frutos de uma sociedade subdesenvolvida, são patéticos.

Pastores e templos caça-níqueis se proliferam na velocidade do crack.

Em quem confiar?

Quando, no Brasil, um casal de idosos que mora sozinho poderá receber, com tranquilidade, 2 mochileiros desconhecidos?

Para o Brasil se desenvolver, de fato, é preciso mudar seus políticos pelo voto popular. Infelizmente, temos muitos eleitores “cegos” e alienados para isto acontecer... Eu, só vejo a Marina Silva, como digna de receber meu voto para Presidente. O resto é farinha do mesmo saco. É continuidade!!!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Boas organizações são criações de seus participantes

Foram 13 dias caminhando.

Partimos de Pieterburen até chegarmos a Vorden. Fizemos 232 Km da trilha “Pieterpad”, que cruza a Holanda de Norte a Sul.

Todos as noites dormíamos em casas de famílias que destinam um ou dois quartos para quem faz esta trilha (tipo Bread & Breakfast para caminhantes). São acomodações cadastradas que você encontra no Guia de 163 páginas publicado pela Nivon. (infelizmente disponível somente em Holandês).

Na Holanda existem 40 Trilhas oficiais de Longa Distância (Lange Afstande Wandelpad, abreviação: LAW), sinalizadas, com guias ilustrados onde você encontra mapa por trecho, informações de cada região, endereço de acomodação etc.

Uma das maravilhas do primeiro mundo...

Caminhar na Holanda é uma maravilha: O país é plano, praticamente 30% fica abaixo do nível do mar. As trilhas são bem sinalizadas, mas você pode se perder se não ficar atento, principalmente nos pontos onde diferentes trilhas se cruzam. É muito seguro, as pessoas são atenciosas, a paisagem é linda, mesmo quando você cruza cidades. O ponto alto é a acomodação. Você dormirá, na maioria das vezes, em casas de aposentados cujos filhos se casaram e um ou dois quartos ficaram disponíveis. Eles adaptam a casa para receber “peregrinos”. O café da manhã é sempre muito bom e mais uma oportunidade de interação.

Em Hellendorn ficamos hospedados na casa de um casal supersimpático. Ele, nos “velhos” tempos era motoqueiro e adorava viajar. Eu disse que tinha um triciclo. Foi o começo de um longo papo que resultou num telefonema para o filho, que morava numa cidade vizinha, trazer sua moto para eu dar uma volta...

Em Schoonloo, quando cruzávamos uma fazenda, vi um avião da segunda guerra estacionado em frente de um casarão. Parei para conversar com o dono. Além de café com bolo, ganhei o direito de entrar no cockpit do avião tirar uma foto...

Numa outra cidade, fomos convidados a subir no telhado da casa para apreciar a vista da cidade...

Renda per capita, por si só, não é um bom indicador da qualidade de vida. Desenvolvimento de um povo e qualidade de vida de sua população incluem valores não mensuráveis como respeito e confiança no ser humano, cultura, amor ao trabalho, dignidade nas relações.

Em uma das casas que ficamos hospedados, ouvi um ditado que teve um impacto muito grande na minha maneira de ver as Instituições:

“Deus criou o mundo, nós, os Holandeses, criamos a Holanda”.

Ele tem toda razão.

Boas empresas (como ‘bons’ países) não acontecem por acaso.

São criações de seus participantes.

Parabéns a todas instituições cujos participantes, intencionalmente, trabalham para criar um ambiente melhor. Este é o caminho.

Participar. Sentir-se responsável.

Algumas fotos da nossa jornada: http://www.youtube.com/watch?v=ZIuSggOWnMg

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Irresponsabilidade e Fantasia

Fernando me ligou a cobrar de São João do Carú. Estava indignado. Seu celular e sua carteira “sumiram” no segundo dia de jornada. Havia partido de Zé Doca e passaria por Santa Inês, Monção, Penalva e retornaria a Zé Doca. Seriam 16 dias de caminhada pelo Maranhão.

“... O grande culpado é o Sarney. Este homem é o símbolo do político que deve ser banido do Brasil. Um irresponsável, um...” (e outra dezena de adjetivos impublicáveis).

“E nossa carga tributária é praticamente a mesma da Holanda. Muito maior do que a dos Estados Unidos, Bélgica e Suíça... como pode? Estes políticos são incompetentes, safados, ...” e mais 2 minutos de atributos. Afinal, era eu quem estava pagando a conta... (Ligação internacional, via Embratel...)

“Venha caminhar por estas bandas pra você entender o que estou falando. Entender não, “sentir” é a palavra correta”.

Ele tinha razão.

Eu havia escolhido outra jornada. Pieterpad, 237 km de outro mundo, outra realidade. Estava a 3 dias do meu destino, quando ele me ligou para “trocar umas palavras”.

Diferentemente de Fernando, estou cansado da nossa realidade. Cansado da nossa pequenez mental, do nosso subdesenvolvimento, da vileza e incompetência de nossos gestores públicos (e Sarney é a bola da vez). Não quero mais enxergar nada disto. Já vi o bastante, já senti o bastante. Quero agora viver o sonho do que poderíamos ter sido (ou quem sabe seremos um dia, num futuro tão distante que não estarei vivo para ver).

Por isto escolhi caminhar na Holanda de van Gogh, em vez do Maranhão de Sarney.

Partimos de Peterburen com destino a Vorden. Uma trilha bem sinalizada e documentada. Você compra o livro-guia (somente em Holandês) que dá todo o trajeto, as opções de parada, o histórico de cada local, o endereço e telefone das famílias que hospedam os caminhantes em seus lares. Normalmente, casais de idosos, cujos filhos casaram e se mudaram, e seus quartos, agora vazios, se tornam fonte de renda adicional. Tudo legalizado, registrado e tornado público unicamente no livro guia desta trilha. Não se trata de Hostel ou B&D. São casas destinados exclusivamente às pessoas que fazem a Pieterpad.

Fantasia? Para nossa realidade e mentalidade, sim.

Numa cidadezinha chamada Ommen, eu e Marlene ficamos hospedados na residência de um casal super simpático. Nos entregou a chave para abrir (se necessário) a porta da sala que era trancada às 10 horas da noite (quando iam dormir). Antes disto, a porta ficava sempre aberta...

Numa outra casa, o proprietário era um motoqueiro “aposentado”. Sintonia total. Ligou para o filho, que morava a poucos quilometros dali, para trazer sua Harley modificada para eu dar uma volta...

Numa outra casa, ficamos no andar superior, onde havia 2 quartos, um banheiro, e no hall uma geladeira pequena com cerveja, vinho e refrigerante. Ao lado, uma mesinha bem arrumadinha, com vaso de flores, copos, talheres, muffins e chocolates, uma lista de preços e uma caixinha de moedas. Você pegava o que queria, pagava e, se precisasse havia moedas para o troco.

Que jornada! Que trilha maravilhosa! Que exemplo de organização e beleza, mantida pelo cidadão para o bem estar da coletividade.

O verdadeiro desenvolvimento social não é percebido pelo PIB, taxa de desemprego ou escolaridade. Segundo Fernando, o melhor é uma caminhada...

Será que um dia teremos a coragem de entregar as chaves de nossas casas para mochileiros desconhecidos?