sábado, 20 de fevereiro de 2010

A MULHER, A BÍBLIA E O DESENVOLVIMENTO

Walter me contou que estava num encontro de negócios que reuniu vários fornecedores de uma multinacional européia.

Sua apresentação foi tranqüila sem incidentes ou questionamentos.

Por outro lado, um apresentador de uma poderosa empresa asiática ficou nervoso, pois sua apresentação gerou questionamentos.

Num gesto de desagrado, para demonstrar o descontentamento com sua assessora pelo erro constatado, deu um tapa na cabeça dela, na frente de todos os presentes. Um peteleco. Nada violento. Um gesto cultural de punição (aceito no seu país?) mas, certamente, não lá na Europa.

No intervalo do café, este fornecedor recebeu uma mensagem no seu smartphone. Se retirou para não mais voltar... Era o fim de uma promissora carreira...

"O tratamento e o respeito pela mulher evoluiu muito em grande parte do mundo".

Walter, reforça a afirmação com duas passagens da Bíblia. Fiquei horrorizado!

As passagens encontram-se em Gênesis 19, 5 e Gênesis 19,7-8.

Dois anjos foram enviados a Sodoma para avisar Ló, sobrinho de Abraão, e dizer que ele saísse da cidade antes da chegada do enxofre.

Ló recebeu os anjos com hospitalidade. Os homens de Sodoma, ao saber da visita, se reuniram em torno de sua casa e o questionaram: "Onde estão os homens que vieram a tua casa hoje? Trazê-os para que deles abusemos". Na sua bravura, Ló, o escolhido por Deus para ser salvo, rejeitou o pedido dos homens dizendo: "Rogo-vos, meus irmãos, que não façais mal; tenho duas filhas virgens, e vo-las trarei; tratai-as como vos parecer, porém nada façais a estes homens, porquanto se acham sob a proteção de meu teto".

Semelhante desrespeito a dignidade da mulher é encontrada no capítulo 19 no livro de Juízes, que relata a história de um levita que viajava com sua concubina. Eles passaram a noite na casa de um hospedeiro. Quando jantavam, homens da cidade bateram a porta exigindo que entregassem seu convidado "para que dele abusemos". A resposta do anfitrião retrata a visão (moralmente aceita na época?) de mulher como objeto de troca: "Não façais semelhante mal; já que o homem está em minha casa... Minha filha virgem e a concubina trarei para fora; humilhai-as e fazei delas o que melhor vos agrade; porém a este homem não façais semelhante loucura".

A Humanidade está ainda na sua adolescência. Temos muito que evoluir. Tenho certeza que chegará o dia que o próprio indivíduo será a única autoridade para determinar, sem questionamentos ou julgamentos de qualquer espécie, o que fazer com seu corpo, seja em casos de aborto ou eutanásia.

Tenho certeza que chegará o dia em que as religiões cairão por terra, e a própria Bíblia, fonte de princípios morais temporais, não passará de um documento histórico. A Humanidade evoluirá a tal ponto que não mais fará sentido o "Dia da Mulher", o "Dia da Consciência Negra", e tantas outras datas religiosas.

Todo dia será dia para se celebrar a Vida.

Infelizmente, assistiremos ainda, muitos shows de barbárie contra mulheres e minorias em nome de um deus ou em nome do amor a uma pátria ou pela pressão de uma sociedade ignorante.

Por muito tempo ainda, os Ló´s e os hospedeiros deste planeta continuarão a oferecer uma vida em troca de um princípio moral insignificante, mesquinho e inaceitável... e muitas pessoas, como aquele fornecedor asiático pagarão um preço muito alto para aprender que a dignidade humana precisa ser respeitada...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Arruda e a Longa Jornada


O primeiro passo foi dado.

O Brasil tem um longo caminho a frente para se tornar país de primeiro mundo.

Não devemos nos enganar com discursos nacionalistas de políticos demagogos. Nosso presidente disse certa vez que o Brasil tem sistema de saúde pública de primeiro mundo...

A popularidade do presidente, aqui dentro e lá fora, não muda a realidade. Temos problemas gravíssimos na saúde, na educação, na segurança e principalmente na política.

O Brasil nunca poderá ser considerado um país de primeiro mundo se continuar sendo o país do jeitinho, dos conchavos e da tolerância com a corrupção.

A prisão de Arruda é o primeiro passo de uma longa jornada. Além dele, muitos outros precisam ir para a cadeia para deixarmos de sentir vergonha de nossos políticos.

A população precisa acordar e entender que nunca existirá um "salvador da pátria", um "líder heróico" que mudará a situação do país de um dia para outro.

Boas organizações (Países incluídos) são construções de seus participantes.

Este trabalho de construção precisa ser feito com atitudes do nosso dia-a-dia, não só exigindo o que é certo, mas também fazendo o que é certo.

Precisamos acabar com a tolerância ao "jeitinho brasileiro".

No caso de candidatos a cargos públicos, se houver suspeita de corrupção ou se este candidato responder a qualquer processo na justiça, não é digno de voto. Tolerância zero. Esta decisão deveria fazer parte da cultura da nossa população. Não precisamos de mais leis dizendo quem pode ou não pode se candidatar. Precisamos incentivar as pessoas a rejeitarem candidatos com qualquer problema com a justiça. Candidato para ter nosso voto tem que ter ficha limpa. Se for pego, filmado ou processado, pode esquecer, nunca mais receberá voto de ninguém!

Só assim deixaremos de ter Malufs, Arrudas, Dirceus, Sarneys, anões, pianistas, manipuladores e ladrões nos representando por mais de um mandato.

Este país nunca se tornará um país de primeiro mundo se continuarmos tolerando a mediocridade na política e sendo medíocres em nossos ações cotidianas.

Gandhi, sabiamente disse: "Quem não dá o melhor de si, está roubando".

O primeiro passo foi dado com a prisão de Arruda.

Vamos continuar.

Participe da jornada para um Brasil desenvolvido.

Incentive todos os seus colegas a não votarem em candidato com problemas na justiça. Sem perdão. Tolerância zero.

A JUSTIÇA PODE PERDOAR. ELEITOR NÃO.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A Selva e o Reencontro com a Humanidade


Sábado, 6 de fevereiro, 6 horas da manhã, eu ainda dormia quando o interfone tocou. Era o Fernando. “E ai cara? Como vai? Que saudades. Vamos tomar café juntos no Frans da Portugal? Preciso conversar com você. Pegue o seu triciclo. Estou te esperando aqui em baixo com o meu. Vê se desce logo cara.”

O que será desta vez?

Fernando acabara de voltar de um treinamento de sobrevivência na selva. Ficara uma semana em Manaus, incomunicável. Pensei que iria falar sobre o curso...

Quando me viu, me abraçou longamente e com muita emoção. Estava irradiante, entusiasmado e feliz como eu nunca vira antes.

Quando chegamos ao Frans, outro abraço emocionado.

Me conta como foi o treinamento?

“Foi legal, você precisa fazer. Cara, como estou feliz em te ver. Sabia que você é o irmão que eu nunca tive? Você é meu melhor amigo” ( E outro abraço. Confesso que fiquei constrangido pelos olhares das outras pessoas, mas Fernando não estava nem ai).

Do treinamento não vou falar nada. Só vou te deixar estar foto. Tô aqui, o primeiro da corda, mostrando a fotografia. Estava quase desmaiando de cansado. No verso tem a senha da minha conta no Santander. Só vou usar o Bradesco. Aqui tem uma procuração. Quero que você cuide do meu apto e do meu carro. Venda quando for o momento. Vou para São João do Caru. Não sei quanto tempo vou ficar por lá ou se vou voltar. Possa ajudar muitas pessoas por lá.

Fernando, você não está muito emotivo por causa do treinamento? Será que é o momento de tomar uma decisão destas?

“Cara, nunca me senti tão feliz na minha vida. Tô alegre, tenho vontade de abraçar todo mundo. Tenho o maior prazer em cumprimentar as pessoas com um sorriso, de conversar, de ajudar... Me sinto livre, leve, capaz de fazer as coisas sem amarras, sem máscaras, ser eu mesmo. Me sinto como uma criança feliz, sem preconceitos. Tenho você, meu irmão, meu triciclo e meu sonho de fazer a diferença naquele fim de mundo. É pra lá que eu vou, sem lenço e documento, eu vou...”

Outro abraço prolongado,e lágrimas... e lá se foi Fernando sem capacete, gritando: “eu te amo cara, eu me amo, quero que todo mundo seja feliz como eu...”

Eu fiquei paralisado, boquiaberto, tentando entender o que aconteceu sob o olhar curioso da atendente e de 4 clientes do café.

O que será que aconteceu naquele treinamento? Será que as privações por que passou o fizeram enxergar sua vida de um outro ângulo? Será que as dificuldades e desafios o fizeram se abrir e expor o seu eu superior? Será que os desafios que enfrentou o fizeram sentir a necessidade de ajudar os outros?

Será que ele não percebeu que ele viveu uma semana intensa, num ambiente “controlado” onde as pessoas poderiam ser elas mesmas e “aqui fora” a realidade é outra?

Fernando me disse muitas vezes: “O homem sensato se adapta ao mundo. O insensato adapta o mundo a si mesmo.”

Tenho certeza que o treinamento o ajudou a se libertar das mascáras, das amarras que estes anos de convivência com pessoas infelizes, amargas, egoístas e sem perspectivas o forçaram a usar como proteção. Tenho certeza que Fernando deveria ter problemas pessoais, escondidos dos outros e dele mesmo. O treinamento, não sei como, expos para ele mesmo seu eu inferior. Fernando se transformou e assumiu a criança pura que sempre existiu dentro dele.

Meu irmão, não sei quanto tempo você ficará longe mas, se voltar, você sabe que encontrará o grande amigo e admirador de sempre. Vá em frente sem medo, siga seu coração. Você é um exemplo de pureza, de dignidade e de bondade que deveríamos encontrar em todos os seres humanos.

Será que existe selva suficiente para treinar e despertar toda essa gente alienada à vida e a felicidade de estar aqui?