Ontem, depois de muitos anos ouvi Carolina de Chico Buarque. Imediatamente me lembrei de uma amiga do passado, “Carolina Olhos Fundos”.
Onde será que ela está hoje? Faz mais de 40 anos que não tenho notícias. Nem sei se está viva!
Nunca me esqueci como ela era especial. Sempre a frente do seu tempo! Com quatorze anos já havia lido O Egípcio, mais de 500 páginas, “coisa de louco” dizíamos... Falava de como Schopenhauer respeitava os animais e criticava a ditadura... enquanto, nós, moleques, brincávamos de “mocinho e bandido” e achamos o máximo discutir as aventuras do “Vigilante Rodoviário”...
Talvez, pelo fato de ter sido criada por uma mãe super atenciosa e dedicada, Carolina se tornara uma adolescente aplicada e ativista.
Me lembro muito bem que não comia carne, pois quando via no prato um pedaço de frango ou bisteca de porco imaginava o animal se debatendo de sofrimento ao ser sacrificado... “Vocês não têm dó?”. Este era um pensamento incomum na comunidade que vivíamos. Ríamos dela. Principalmente, nós que matávamos passarinhos com estilingue e os caçávamos com gaiolas e alçapão... Consciência zero! Santa ignorância juvenil...
Fico imaginando quão indignada ela ficaria hoje ao pensar na industria da proteína que, literalmente, explora os animais ao extremo para transformar milho em carne. Até escuto sua voz: “estes animais são privados do contato com a natureza, vivem confinados, super alimentados, anabolizados para crescerem rapidamente e depois serem mortos brutalmente... Como alguém pode achar natural uma coisa destas?”
Fico imaginando quão indignada ela se sentiria hoje ao ouvir notícias dos eventos que cercaram a morte do prefeito Celso Daniel, os escândalos envolvendo nossos ministros, as denuncias de movimentação financeira no judiciário...
Quando ela entrou para a faculdade nos afastamos. Seguimos caminhos diferentes. Mas, tenho certeza que, se ainda estiver viva, não perdeu a capacidade de se indignar e que sofre com tudo que vem acontecendo neste pais.
Como escreveu Chico Buarque:
“Carolina, nos seus olhos fundos, guarda tanta dor,
a dor de todo este mundo...”
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