segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Menos! Não se leve tão a sério...

Acabo de receber um tweet de Fernando:

“Estou na França. Vim aqui pra assistir “Meia noite em Paris” de Woody Allen...vou te ligar no Skype. Não fuja.”

“O tempo está maravilhoso, do jeito que gosto: Céu nublado e uns 10 graus... excelente para caminhar...Vem prá cá você também...”

“Ta louco, tenho que trabalhar...”

“Menos... não se leve tão a sério... Você já parou pra pensar que a vida não é só trabalho? Depois do que aconteceu comigo, lá no Maranhão, eu mudei. E como mudei...

Se alguém me pergunta o que eu faço, não fico aborrecendo o outro com detalhes da minha vida pessoal. Eu fazia muito disso. Uma vez, durante um vôo pro Nordeste cheguei a ficar mais de uma hora falando, sem parar, sobre meu trabalho com uma senhora que sentou-se ao meu lado e fez a besteira de perguntar o que eu fazia e porque estava indo pro Maranhão...

Eu era meu trabalho! Não tinha identidade. Não tinha tempo para nada. Vivia estressado. Só sabia falar, com eloqüência, sobre o que fazia, as dificuldades que enfrentava e meus desafios... Eu não era ninguém fora do trabalho...

Hoje, eu aprendi que o segredo de viver bem, o segredo para ficar mais energizado e menos estressado com o trabalho é desfrutar pequenos momentos todos os dias!

Sentar na varanda e tomar um copo de vinho olhando pro céu, tomar um cafezinho com calma, dar uma caminhada tranqüilo, sentar numa poltrona e só ouvir música com fone de ouvido sem fazer absolutamente nada, ir ao cinema no meio da semana...

Sair da rotina, TODA A SEMANA, é muito importante para carregar as baterias...

Quer ser produtivo e mais eficiente? Pare e relaxe. Curta pequenas coisas todos os dias, sem pensar nas coisas que tem que fazer... desfrute aquele momento!

Monta, preciso desligar. Manda um abração prá sua mãe. Ela faz aniversário dia 14, certo?”

Escutar, nunca foi o forte do Fernando!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O moleque, o velho e o circo


15 de fevereiro de 2034.

Faz calor em Oeiras. Muito calor, apesar de ser 4 horas da madrugada...

Um dos nossos personagens, um garoto de 12 anos dorme um sono intranqüilo. Menos pela temperatura e mais pela ansiedade da aventura que o espera amanhã: ir a cidade para ver o circo! Afinal, foram meses e meses de espera e de trabalho duro para juntar algum dinheiro. Tudo para realizar este sonho que segundo seu avô, seu único companheiro naquela casa de barro, era uma extravagância.

Moleque, como era chamado, conseguiu juntar 10 R$ em oito meses de trabalho. Quanto esforço! Seu avô estava orgulhoso da determinação do moleque... e não era para menos, com tanto dinheiro o garoto poderia comprar um par de sandálias novas que tanto precisava e ainda sobrava uns trocados para uma rapadura de 2 kilos... mas, não! O garoto insistia que tinha juntado o dinheiro para ir ao circo, comprar pipoca e ver o mágico de Zós...

Naquele momento, nada tinha mais VALOR para ele do que este passeio. “Será que os velhos nunca foram crianças e não sabem que diversão é muito mais importante que sapato e comida?”

Enfim, amanhece. O avô acorda, senta à beira da cama e pensativo passa a observar o neto dormindo... são quase seis horas, logo os dois se porão a caminhar: “hoje é um dia de festas”...

Vô, apesar de seus 82 anos, ainda era perfeitamente lúcido. Conseguia se lembrar de muita coisa do antes... Ele vivia contando antigas estórias... lembrou-se, naquele momento, que estudou um conceito que conseguiria explicar esta necessidade de querer coisas que, na verdade, não são essenciais... “Ah, se ainda tivesse os livros de Marketing... eu gostava tanto do prof. Cosenza... que saudades da minha turma do mestrado... que pessoal criativo! Será que sobreviveram?... Ah, sim... o ponto de partida está baseado nos desejos e nas necessidades humanas... o desejo das pessoas por coisas que podem comprar vai gerar uma DEMANDA... Mas, por que alguém prefere comprar um ingresso de circo a uma sandália? ... ai entra o conceito de UTILIDADE... Cada coisa tem uma capacidade diferente de satisfazer as necessidades humanas...

O velho ainda viajava em seus pensamentos quando, de repente, escuta uma voz lá longe chamando: “Vô, vô, tá na hora, precisamos ir, o Sr. tá me escutando?...”

Aos poucos o velho volta a si, e descobre que tem uma missão importante a fazer: ensinar seu neto aquilo que ainda conseguia se lembrar do passado... E isso começaria imediatamente!

Naquele deserto, no meio do nada, seguem felizes um velho e um moleque, cada qual por uma motivação diferente...

Se alguém estivesse por perto escutaria, pelas quase 4 horas de caminhada, o velho discorrendo sobre a distorção dos valores humanos para criação de demandas artificiais... sobre o consumo desenfreado... sobre a famosa mensagem de Victor Lebow... sobre a “percepção de obsolescência das coisas” induzida pela propaganda que nos obriga a trocar coisas mesmo quando ainda são funcionais... sustentabilidade ... superpopulação... e o preço que a humanidade pagou por tudo isto...

“Moleque, milagres não existem. Tudo tem limite. Tudo tem um preço. O segredo está nas escolhas que fazemos, coletivamente...”

E esta foi a história de um velho que sobreviveu às conseqüências do consumo irresponsável...

“Por que razão que se perceba,

Não há de ser esta história mais verdadeira

que tudo quanto os homens de marketing pensam

e tudo quanto as escolas ensinam?”

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

De repente acordei…


Os pingos da chuva batiam na janela ritmados como no 2o movimento do concerto Inverno de Vivaldi.

De repente acordei...

Sonhei que eu gerenciava uma empresa na qual os funcionários eram felizes. Uma empresa onde se via que o sorriso no chão da fábrica era natural e espontâneo.

Uma empresa onde os funcionários tinham orgulho de trabalhar, eram ouvidos, respeitados e se sentiam responsáveis pela manutenção do espírito de cooperação.

Manda quem pode, obedece quem tem juízo” NÃO se aplicava a nossa realidade.

A gestão participativa era praticada. As pessoas se respeitavam.

A empresa era estruturada com base em Equipes, em Equipes Auto-Geridas, não em deptos. O espírito de equipe fazia toda a diferença!!!

A relação ganha-ganha imperava.

Toda contribuição era reconhecida e recompensada. Ganhei uma camiseta do PSV Eindhoven de um operador que, como reconhecimento, fora premiado com uma viagem à Holanda...

Inúmeras viagens, prêmios em dinheiro, inclusive carros eram distribuídos em função das melhorias efetuadas pelas equipes.

A participação nos resultados não era um “me engana que eu gosto”.

Vários gestores do exterior, inclusive sindicalistas da Inglaterra, vieram conhecer como nossa empresa conseguia ser tão especial.

O segredo era o comprometimento e o envolvimento dos funcionários alimentados pela fé que todos, inclusive a liderança, tinham no modelo de gestão!

A auto-gestão funciona! Só depende de maturidade...

Continua chovendo...

Como um sonho pode retratar a realidade?



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

...e Deus foi ao inferno para se encontrar.

“Vamos para Itú? Vai fazer sol o dia inteiro neste domingo?”

“De triciclo?” perguntou Marlene?

“Claro!”

E lá fomos nós.

Quando chegamos, Fernando já estava lá em baixo para nos receber. Apontou com as duas mãos para o Azul do Céu como estivesse fazendo um agradecimento aos deuses e acenou, como estivesse nos apresentando o Verde do seu Condomínio de luxo. “A jornada é o propósito! E tem gente que procura um significado, um porquê da jornada... Percorrer o caminho é um Privilégio. Conseguir ver e sentir é a Recompensa e, isto é tudo o que importa... Vocês, de triciclo, vivenciaram uma verdade metafísica... Me encontrar aqui não foi o propósito de terem vindo!”

“E tem gente que vai longe para se encontrar”. Retruquei.

“Você tem razão, eu...” tentou responder Fernando.

“E assim que vocês se cumprimentam, depois de tanto tempo sem se verem?” Interrompeu Marlene, pensando que eu me referia ao fato de Fernando ter acabado de voltar de São João do Carú, onde fazia trabalho voluntário e que minha afirmação o ofendera.

Olhei para Fernando que me abraçando sussurrou: “Gustav Van Doorn...”

Com este gesto, Fernando demonstrou que havia entendido que minha afirmação se referia ao texto do belga Van Doorn: “Deus foi ao inferno para se encontrar”. Neste texto, o professor, relata a experiência maravilhosa que é ver, sentir e compreender quão remota é a possibilidade da existência de vida inteligente. Este é “o” milagre. Fruto do acaso. Não há Criador, nem criação intencional. Somos parte de um Todo que é, em essência, a negação do Nada Absoluto. A Força que move o Universo é a Necessidade de Ser... Segundo o autor, as religiões, a certeza da existência de um Deus, a convicção que a vida humana tenha um propósito e a crença na vida pós-morte são necessárias nesta fase do desenvolvimento da humanidade. “Estamos na infância... Não nos demos conta, ainda, de quão espetacular é o fato de estarmos aqui e podermos ver e sentir... Nossa jornada justifica a nossa existência... O ódio, a inveja, o patriotismo, a ambição desmedida, os cultos religiosos, as guerras, a devastação da natureza são alguns dos sinais da falta de amadurecimento... Quando formos evoluídos entenderemos que percorrer o Caminho (viver) é “o” privilégio... passaremos a adorar e a venerar a Vida... mas, até lá Deus (simbolizando a humanidade) precisará ir até o inferno para se encontrar...”.

“Estava com saudades de nossos papos. Vamos entrar...”