segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A importância de trocar as meias e o trabalho em equipe




Tivemos sorte, chegamos numa semana ensolarada do início do verão, ideal para caminhadas.

Não fazia frio e o céu azul intenso deixava o pico branco das montanhas ainda mais convidativo.

Eu e a Marlene sempre gostamos de caminhar sozinhos. Só nós dois. Já tínhamos tido experiências negativas caminhando em grupo, mas, nossos colegas insistiram tanto que fomos num grupo de 12 pessoas pro Canadá com o objetivo fazer a trilha do “Kananaskis Alpine Traverse”.

Culpa nossa. Já havíamos feito esta trilha 3 anos atrás. Compartilhamos com eles nossas “histórias” tão empolgadamente que ficaram com vontade de fazê-la também. Sem falar com a gente, Fernando juntou o grupo, organizou a aquisição das passagens, vistos, lista das roupas e itens da mochila. Depois de tudo pronto, fomos intimados a servir de “guias”...

Eu e Marlene ficamos muito chateados. Nem todos tinham experiência em caminhadas longas. Dois casais nunca tinham acampado. Fernando estava levando a irmã e o namorado, Valdir, que nem conhecíamos.

Antes de sair do Brasil, reunimos todos eles, falamos da importância de não carregar absolutamente nada a mais na mochila. Da importância de cuidar bem dos pés. Inspecionamos as meias e botas que estariam usando. Uma bota inadequada ou não amaciada anteciparia o final da jornada. Praticamos pequenas trilhas com as mochilas carregadas, fizemos o pessoal montar e desmontar as barracas e, até cozinhar... Assinamos um código de conduta. Ficou claro (pelo menos, eu acreditava que sim) que era necessário respeitar os limites de cada um e as diretrizes dos guias (eu e Marlene).

Neste tipo de jornada nós confiamos nossa segurança nas forças e fraquezas dos outros. Trabalho em equipe é essencial.

Parecia tudo bem. Saímos do Brasil num alto astral. Todo mundo animado.

Passamos 3 dias em Vancouver para fazer um pouco de turismo e aquecimento... De lá um vôo até Calgary e de Calgary, de ônibus para Canmore, nosso ponto de partida.

O primeiro dia de trilha, paisagens lindíssimas ao redor do Upper Lake, passamos por Hidden Lake e acampamos perto Aster Lake.

Nenhum incidente de destaque, exceto o aborrecimento de conter o ímpeto do Valdir e da namorada, que aceleravam o passo e passavam a nossa frente. Por duas ou 3 vezes, tivemos que lembrá-los do nosso acordo.

Nesta região o resgate é bastante complicado. Todo cuidado é pouco.

No segundo dia, a meta era chegar a Northover ridge. Uma caminhada de pouco mais de 10 km, porém subiríamos cerca de 1.000 metros. Bastante cansativa e mais perigosa. Desta vez, Valdir tornou-se um problema. Por ser mais jovem e possuir melhor preparo física que os outros, achou que podia desrespeitar nossas limitações e sentir-se livre do grupo. Ele e a namorada queriam tirar o máximo do passeio, explorar a região e tirar fotografias em pontos fora da trilha. Se afastar do grupo, em trilhas como essa, é um grande risco.

Apesar do verão e céu azul, durante o dia a temperatura média é de uns 12 graus, a água dos rios gelada e o tempo pode piorar rapidamente nesta região. Para a altitude que estávamos nos dirigindo encontra-se neve congelada. Manter os pés secos e aquecidos é absolutamente necessário.

Por causa do esforço, nossas camisetas e meias ficam úmidas de suor, mas não sentimos frio durante a caminhada.

Quando paramos para montar o acampamento, as coisas mudam. O vento frio passa a incomodar. A primeira coisa que temos que fazer é trocar a roupa que está em contato com o corpo, principalmente meias.

No final da tarde, quando paramos para armar as barracas, Valdir, sentindo-se bem, só colocou um agasalho mais quente, apesar de nossa insistência da necessidade de trocar as meias e a roupa de baixo imediatamente. Depois de arrumar suas coisas e ficar conversando e revendo as fotos, comeu bem pouco e foi dormir.

No meio da noite, sua namorada entra na nossa barraca assustada. Valdir estava tremendo muito, cheio de calafrios. Não estava nada bem.

À noite a temperatura cai bastante. A camiseta e principalmente as meias “úmidas” roubam o calor do corpo de forma impressionante.

Por não nos ouvir, por não assumir a responsabilidade por si mesmo, Valdir colocou todos nós e nosso projeto em risco.

Quando um projeto depende do trabalho de equipe, não pode haver estrelismos.

Precisamos entender que outros dependem de nós e nós dependemos de outras pessoas.

Não dá para querer ser o herói ou resolver tudo sozinho. Não tem essa de querer chegar primeiro. Se houver competição entre os membros do grupo, não haverá vencedores. Todos perderão.

A experiência acumulada e a cultura do grupo precisam ser respeitadas. Pequenos detalhes, para os recém-chegados, como trocar as meias e a camiseta suada, não podem ser desprezados ou ignorados sem antes entender o porquê. Comunicação, transparência e confiança mútua são os ingredientes básicos de uma boa relação na equipe.

Quanto maior o risco do empreendimento, mais espírito de “equipe” o grupo precisa ter.

Valdir aprendeu a lição. O grupo todo teve que voltar para Canmore. Perdemos 6 dias de nossas férias. Fernando e a namorada ficaram com ele. E nós, o resto do grupo, sem nenhum sentimento de culpa reiniciamos a trilha do marco zero.

Cansados, mas felizes, numa noite escura de poucas estrelas, cantamos “La Montanara” pela vitória de ter concluído o “Kananaskis Alpine Traverse” chegando ao pico do Sir Douglas.

Para Valdir nunca mais se esquecer do significado de equipe tiramos uma foto do grupo, no topo da montanha, com nossa bandeira improvisada: uma meia pendurada na ponta de nosso bastão de trekking...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Mercadante e a falta de Líderes



O renomado Instituto Suíço IMD acaba de publicar o ranking da competitividade das nações de 2009.

Aluísio Mercadante afirmou no seu twiter que iria pedir demissão da liderança do partido, no Senado, em caráter irrevogável, mas volta atrás no dia seguinte.

Segundo o relatório do IMD daqui a mais ou menos 25 anos o Brasil passará a ser reconhecido como um centro de desenvolvimento de tecnologia. Segundo eles, vamos crescer e tornarmos muito mais competitivos...

Apesar de toda a incompetência de nossos políticos? Será que o IMD não subestimou o poder que esta massa amorfa, corrupta e que trabalha somente em prol de si mesma tem de atravancar o crescimento do Brasil?

Este mesmo relatório prevê que o Brasil, por volta de 2020, criará excelentes oportunidades de emprego para Gerentes. Competências nas áreas de marketing, finanças e estratégia serão muito valorizadas pelo mercado.

O IMD está superestimando o crescimento brasileiro ou subestimando a capacidade de nossas escolas de administração de formar rapidamente gerentes e líderes competentes? Escolas de administração não faltam neste pais... Boas escolas?

O IMD é um instituto sério e respeitado. Esta análise levou em conta 329 variáveis. Dados reais e históricos foram levados em consideração nas projeções. De fato, nosso país tem potencial. Infelizmente, desconhecido pela maioria dos brasileiros.

A incompetência de Mercadante em lidar com a situação que tinha nas mãos tem um significado muito maior do que aparenta. Demonstra a falta de liderança desta geração que se submete aos Paulo Duques, aos Sarneys e aos velhos políticos não alinhados com o futuro e com a ética. Jovens promissores, como Aluísio Mercadante, não têm o direito de fracassar com o dever de cumprir o papel de líder. Jovens promissores não têm o direito de se omitir na concretização do nosso crescimento.

Mercadante, você foi uma decepção.

Pelo menos, você servirá como um estudo de caso acadêmico sobre liderança.

Sua hora de agir era aquela e você fraquejou. Aprendemos com exemplos!

LIDERAR É SERVIR.

LIDERAR É FAZER ACONTECER.

Liderar é ajudar seus liderados a crescer e atingir seu potencial. Sua decisão, sua omissão, injustificável, demonstrou que faltam a você os atributos necessários a jovens líderes que o Brasil tanto precisa. Você perdeu o trem da mudança!

Sinceramente, espero que o IMD esteja certo.

Espero que toda esta velha geração de duques e sarneys inúteis e esta nova geração de mercadantes hesitantes, em breve, sejam coisas do passado para que este pais possa se tornar um país de primeiro mundo, em 30 anos...

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Políticos, Eleitores e o Erro Fundamental de Atribuição



Walter perdeu seu pai aos 6 anos. Sua mãe, uma dona da casa determinada deu um duro danado para criá-lo.

Pelo que sei, Walter sempre estudou a noite. Começou trabalhar cedo. Aos 12 já lavava peças numa oficina de autos no Bom Pastor.

Seu sonho era ser engenheiro. Com sacrifício conseguiu entrar na FEI.

Trabalhou por 6 anos, em Ribeirão Pires na Fábrica Constanta Eletrotécnica, no 3º turno, enquanto cursava a faculdade.

Sua vida era uma loucura. Os colegas o ajudaram muito. Desdobravam-se para fazer o seu serviço, enquanto tirava um cochilo prolongado no vestiário na hora da janta. Ele literalmente foi adotado pelos colegas. Se cotizaram e cada dia um trazia de casa a “marmita para Waltinho”. Ajudavam em tudo que podiam. Queriam vê-lo engenheiro e longe do chão de fábrica. E conseguiram...

A Constanta fechou as portas.

Walter está há muitos anos nos Estados Unidos.

O caso dele me faz acreditar que não é tão difícil assim fazer a diferença para alguém. Basta querer e estar no ambiente adequado.

A situação que vivemos é determinante para a formação do nosso caráter. Walter é a prova viva disto. Seus colegas e seu ambiente de trabalho foram mais importantes que sua própria mãe para a formação de sua personalidade.

Quando vejo nossos senadores na tribuna, complacentes, displicentes, arrogantes, discursando e defendendo o indefensável, penso que a falta de caráter destes políticos tem mais haver com o ambiente e a situação que vivem do que com a formação que receberam.

Um amigo psicólogo me disse: “Caráter é mais um pacote de hábitos, tendências e interesses dependentes das circunstâncias e do contexto, do que traço fundamental das pessoas”.

HONESTIDADE DEPENDE MUITO DA SITUAÇÃO E DO CONTEXTO!

A única saída para este país é mudar o “contexto” de Brasília. Precisamos criar o clima, o estado de espírito sonhador, o contexto que viviam aqueles trabalhadores que tinham como meta ver um deles se tornar engenheiro...

RENOVAÇÃO É O QUE PRECISAMOS.

Sem massa crítica, sem muitos políticos novos não vamos mudar esta pouca vergonha que virou o PT, o PMDB e o nosso SENADO. O "Contexto" vai continuar a ditar o padrão de comportamento e o caráter de quem pisar lá.

NÃO REELEJA NINGUÉM!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A crença precede a prática


As crenças, os valores norteiam a vida das pessoas e das Instituições.

A prática, as atitudes refletem de maneira inegável os verdadeiros valores e crenças.

As palavras servem como referência para análise dos valores que estas pessoas e Instituições querem exteriorizar.

Como confiar ou mesmo tolerar um político, um gestor, ou uma Instituição cuja pregação, as palavras não refletem as atitudes do seu dia-a-dia?

Somos o que praticamos, não o que dizemos que acreditamos.

Quais os verdadeiros valores e crenças dos líderes da Igreja Renascer, pegos e presos por entrar nos Estados Unidos com mais de 50mil dólares não declarados, escondidos numa bíblia?

Quais os verdadeiros valores de Maluf que diz teatralmente que não tem dinheiro no exterior?

O que pensar de Sarney, Paulo Duque, Calheiros, Collor e tantos outros senadores?

Edir Macedo e a Igreja Universal foram complacentes com desvio de dinheiro de doações? Dá para acreditar na declaração dos valores desta Instituição?

E agora paira dúvidas sobre Dilma. Dilma mentiu no caso do dossiê dos cartões? Dilma pediu ou não agilização nas investigações contra empresas da família Sarney? Mentiu no currículo Lattes sobre seu mestrado e doutorado? Fez parte do curso, não concluiu. Então não tem o título de Mestre. Sabia do erro? Se ela foi complacente com este “pequeno” engano, que outros desvios foram ou serão tolerados?

Pessoas públicas e Instituições não podem ser COMPLACENTES com desvios.

Nós podemos tolerar divergências entre palavras e atitudes de Instituições e figuras públicas. TOLERÂNCIA ZERO À COMPLACÊNCIA.

Não existe outra maneira da humanidade se desenvolver com dignidade.

“Os fins justificam os meios” é uma prática inaceitável, pois esconde os verdadeiros valores de quem a pratica.

domingo, 9 de agosto de 2009

Nós também podemos?

Adaptação do discurso de Obama de 05/11/2008 para nossa situação

“O que os cínicos não entendem é que o chão IRÁ SE MOVER SOB sob eles...

... As discussões políticas mofadas que nos consumiram por tanto tempo não servem mais.

PRECISAMOS proclamar o fim dos sentimentos mesquinhos e das falsas promessas, das recriminações e dos dogmas desgastados que por tanto tempo estrangularam nossa política...

... Ainda somos uma nação jovem...

... Nossa jornada de tomar atalhos ou de nos conformar com menos PRECISA ACABAR...

... Chegou o tempo de reafirmar nosso espírito resistente; de escolher nossa melhor história; de levar adiante ESTE SONHO, essa ideia nobre DE JUSTIÇA, DE ÉTICA E COMPETÊNCIA NA GESTÃO PÚBLICA...

Nossos trabalhadores não são menos produtivos do que NENHUM OUTRO.

Nossas mentes não são menos criativas, nossos produtos e serviços não menos necessários do que foram na semana passada, no mês passado ou no ano passado.

Nossa capacidade É MUITO MAIOR DO QUE A MAIORIA DOS BRASILEIROS IMAGINA.

Mas nosso tempo de repudiar mudanças, de proteger interesses limitados e de protelar decisões desagradáveis -- esse tempo certamente já passou.

... PRECISANOS nos ERGUER, sacudir a poeira e começar o trabalho de refazer O BRASIL....

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A mulher, o gay e o negro


Eu disse que não iria, mas a Marlene insistiu tanto que fomos pra Boituva.

O preço: distensão no pé esquerdo e 2 dias de molho sem poder andar...

Mesmo assim valeu a pena. O salto foi muito legal.

Também foi muito legal receber Fernando em casa com uma garrafa do Almaviva e 3 filmes em DVD.

“A idéia é discutirmos enquanto bebemos. Já que você não pode fazer nada mesmo...”.

Nem terminei de contar como havia sido o acidente e Fernando me interrompe:

“Tá na hora. Vou nos conectar com o Walter via Skype e ligar o DVD...”

A tecnologia (e o pé enfaixado) permitiu que, nós aqui e Walter lá em Chicago, conversássemos e assistíssemos simultaneamente os mesmos filmes:

A Troca com Angelina Jolie, Milk com Sean Penn e Quase Deuses com Mos Def.

A intenção foi a de usar os filmes para alavancar uma discussão sobre a evolução do comportamento social e imaginar o que será o mundo daqui a 50 anos...

“A humanidade ainda está na sua adolescência. O entendimento é pequeno, mas a arrogância e o poder de destruição são grandes... Todo este preconceito, esta ignorância, essa mediocridade, essa visão de mundo atrelada ao próprio umbigo vão passar. Nossos valores e comportamento coletivo irão mudar...“

O problema é que nosso dia-a-dia nos consome, nos sufoca e não nos deixa enxergar para frente... Por isto, precisamos, de tempos em tempos, olhar para trás e refletir. Estamos caminhando.

“Devagar e nem todos no mesmo ritmo, mas, os blogs, a tecnologia de comunicação, os pés quebrados vão dar uma forcinha...” satirizou Walter.

PS.: Assistam os filmes e pensem a respeito.