A notícia foi bombástica: minha amiga, L, está com câncer no estômago e se prepara para a 2a sessão de quimio no Sírio...
A informação, no primeiro momento, me causou uma profunda tristeza. Pensei no sofrimento que ela, o marido e o filho de 8 anos estão vivenciando. O tratamento é longo, doloroso e introspectivo. Felizmente, L é uma lutadora, tem muita força de vontade e não se deixa abater por qualquer coisa. Nesta situação, a vontade de vencer e de superar o problema são os outros 50% da cura. Motivos para lutar não faltam para L ... Como diria, Frankl, "quem tem um porquê, enfrenta qualquer como".
Depois, do primeiro choque, egoisticamente pensei em mim. Estou sendo guiado pelo relógio, cumprindo obrigações e deixando novamente a rotina ditar meus passos? Vou acordar um dia, mais enrugado ou doente e descobrir que deixei de fazer o que realmente poderia ter feito? Estou me desviando do meu norte verdadeiro?
Há alguns anos tomei consciência que a alegria está na jornada: Não existe ponto de chegada! Como disse Covey, a Bússola, e não o Relógio, deve direcionar nosso caminho. Sou grato por poder ter feito esta opção para definir minhas prioridades. Minha bagagem pessoal ficou mais leve, me livrei da ilusão do poder, de sentimentos menores e da insônia... porém, a inesperada situação de L me despertou para uma realidade que tenho medo de enfrentar neste trecho da jornada... a consciência do privilégio que é estar aqui e perceber a preciosidade que é poder sentir prazer em ver o azul do céu, a consciência do privilégio que é ter a capacidade de se emocionar até as lágrimas com Mozart, de poder andar de triciclo, sem compromisso, numa manhã de sol com quem se ama, me tornaram ainda mais apegado ao caminho... sei que vale a pena lutar. Por isto, L, estou torcendo por você.
Um comentário:
Independente das crenças devemos lembrar que a vida é só essa sem save e nem load, realmente é algo pra se pensar. Somos criados e condicionados em uma sociedade que a meta é trabalhar duro, reproduzir e atingir uma boa e bem remunerada aposentadoria, me questiono se esse é realmente a desejada 'felicidade'. Vejo que existem os momentos e estes sim devem ser bem aproveitados.
Abraços de Curitiba,
Guilherme Cenzi
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