quinta-feira, 30 de julho de 2009

Cerebro estressado, triciclo e o desenvolvimento pessoal


A gripe suína nos afastou da Patagônia.

Achamos mais prudente adiar o passeio, não pelo medo de ficar doente, mas pelo risco de afetar nossos familiares.

Foi até melhor, pois Fernando nos convidou para passar uma semana em seu sítio de Campos. Estranhamos, pois pouquíssimas pessoas tiveram o privilégio de visitar seu refúgio (“meu santuário” como diz ele).

E o mais espetacular é que lá, pude dar uma volta no seu triciclo: um Carver!!! O sonho dos sonhos dos amantes de triciclos. ( http://www.carver-engineering.com/ )

Como não poderia deixar de ser, tivemos uma longa e interessante discussão, via Skype, com Walter (que está novamente em Chicago).

"Se você quer que seu filho vá bem na escola", nos disse Walter, relatando uma das mensagens do novo livro do professor Medina, "ame sua esposa, pois não existe melhor previsor de boa performance acadêmica do que um lar harmônico".

"O cara tá certo", pondera Fernando. "Cérebros estressados na infância, não só não atingem seu potencial, mas também carregam marcas para sempre. Veja o meu caso. Fiz 60 anos dia 13 de junho, mas todos os pesadelos que tenho, mesmo sonhando coisas atuais, acontecem na casa ou no bairro que eu morava quanto tinha uns 7 anos. Com certeza, meus pais, sem saber, afetaram e continuam afetando minha vida... (positiva e negativamente)”.

Nossa conclusão:

Quem tem dependente é dependente e não tem a liberdade que, infelizmente, acredita que tenha (por falta de maturidade). Responsabilidade pela qualidade de vida de outra pessoa cresce com o desenvolvimento pessoal.

sábado, 25 de julho de 2009

Fome, Filiação e Desenvolvimento


O sol do Maranhão afetou a visão de mundo do Fernando.

Neste final de semana, depois de longa ausência, nos encontramos no nosso bar preferido. O telão estava ligado, o bar cheio de torcedores entusiasmados com o desempenho do Ronaldão, que acabara de fazer seu segundo gol na partida... No meio da gritaria de comemoração, Fernando berra:

"Isto é subdesenvolvimento"!

Ainda bem que ninguém prestou atenção.

"Que é isto Fernando?", pergunto assustado com a eventual reação que poderia ter sido provocada pela mistura 'cerveja e multidão empolgada'.

"Andei pensando e cheguei a conclusão que filiação é o maior indicador do subdesenvolvimento da humanidade".

Olhe para trás: tribos, clãs, feudos... Quantos crimes foram e ainda continuam sendo cometidos por causa da visão limitada por dogmas religiosos e políticos?"

Após uma pausa para esvaziar seu copo, ele continua no mesmo tom:

"Imagine-se daqui a 1.000 anos. Você realmente acredita que encontrará esse fanatismo irracional de seguidores religiosos, políticos e até de torcedores?"

Esse provincianismo, esse bairrismo existe porque o homem ainda não entendeu sua condição privilegiada no universo. Ele não enxerga além do seu cotidiano. Seu mundo mais se parece com uma novela de intrigas da rede Globo...

"O sentimento da necessidade do fim da filiação será o primeiro passo para o desenvolvimento da humanidade".

“Até que isto aconteça muito gol será comemorado com fervor, muita gente irá morrer em nome de sua pátria ou de seu deus”.

"Um brinde ao futuro e ao desenvolvimento dos “afiliados” ao respeito à natureza e amor à vida"

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Ghandi, “Pizzaiolos” e Palhaços


A frase de Ghandi diz tudo: “Devemos nos transformar na mudança que queremos ver”.

Nosso esperto presidente e nossos dignos e confiáveis senadores dão a demonstração clara da mudança que querem ver neste país: “Nenhuma”. Afinal de contas quem se lixa para a opinião pública? São tão “volúveis”! Como disse o extremamente crível e imparcial presidente do conselho de ética, senador Paulo Duque.

Cada vez mais me convenço que esta geração, que está no poder, não tem a mínima condição de entender o significado e a extensão da mensagem de Gandhi.

E, pelo jeito que agem, demonstram que a manutenção do “status quo” é o que interessa a eles.

Valores como honestidade, respeito pela vida e pelo direito dos demais se constrói (na família, na Nação, ou em qualquer Instituição) com o exemplo efetivamente praticado pela Liderança (pais, políticos e gestores), a todo instante, haja o que houver!

Como podemos esperar que um filho seja integro se vê diariamente, mesmo em pequenos gestos, o pai não agindo de acordo com sua pregação? Como respeitar um gestor casado que “sai” com sua funcionária? (Se ele trai a esposa e mãe de seus filhos, que garantias temos que não vai trair os funcionários e a empresa?). Como respeitar e aceitar um político que se “lixa” para a opinião pública? Que diz que não tem dinheiro no exterior e o próprio banco diz o contrário? Ou cujo patrimônio cresce assustadoramente, em poucos anos de mandato? Ou aquele que abraça e elogia publicamente o antigo adversário, antes inimigo mortal por ser corrupto?

Fora Sarney e todos os que o apóiam.

Sim! Essa geração de políticos está perdida. Infelizmente, eles são o exemplo da dignidade existente neste país. E nós, o povo, os eleitores, os cidadãos deste Brasil somos apenas “palhaços volúveis” (copiando o linguajar enfático do presidente) que não sabem o que querem e nem sabem demonstrá-lo...

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Irresponsabilidade e Fantasia

Fernando me ligou a cobrar de São João do Carú. Estava indignado. Seu celular e sua carteira “sumiram” no segundo dia de jornada. Havia partido de Zé Doca e passaria por Santa Inês, Monção, Penalva e retornaria a Zé Doca. Seriam 16 dias de caminhada pelo Maranhão.

“... O grande culpado é o Sarney. Este homem é o símbolo do político que deve ser banido do Brasil. Um irresponsável, um...” (e outra dezena de adjetivos impublicáveis).

“E nossa carga tributária é praticamente a mesma da Holanda. Muito maior do que a dos Estados Unidos, Bélgica e Suíça... como pode? Estes políticos são incompetentes, safados, ...” e mais 2 minutos de atributos. Afinal, era eu quem estava pagando a conta... (Ligação internacional, via Embratel...)

“Venha caminhar por estas bandas pra você entender o que estou falando. Entender não, “sentir” é a palavra correta”.

Ele tinha razão.

Eu havia escolhido outra jornada. Pieterpad, 237 km de outro mundo, outra realidade. Estava a 3 dias do meu destino, quando ele me ligou para “trocar umas palavras”.

Diferentemente de Fernando, estou cansado da nossa realidade. Cansado da nossa pequenez mental, do nosso subdesenvolvimento, da vileza e incompetência de nossos gestores públicos (e Sarney é a bola da vez). Não quero mais enxergar nada disto. Já vi o bastante, já senti o bastante. Quero agora viver o sonho do que poderíamos ter sido (ou quem sabe seremos um dia, num futuro tão distante que não estarei vivo para ver).

Por isto escolhi caminhar na Holanda de van Gogh, em vez do Maranhão de Sarney.

Partimos de Peterburen com destino a Vorden. Uma trilha bem sinalizada e documentada. Você compra o livro-guia (somente em Holandês) que dá todo o trajeto, as opções de parada, o histórico de cada local, o endereço e telefone das famílias que hospedam os caminhantes em seus lares. Normalmente, casais de idosos, cujos filhos casaram e se mudaram, e seus quartos, agora vazios, se tornam fonte de renda adicional. Tudo legalizado, registrado e tornado público unicamente no livro guia desta trilha. Não se trata de Hostel ou B&D. São casas destinados exclusivamente às pessoas que fazem a Pieterpad.

Fantasia? Para nossa realidade e mentalidade, sim.

Numa cidadezinha chamada Ommen, eu e Marlene ficamos hospedados na residência de um casal super simpático. Nos entregou a chave para abrir (se necessário) a porta da sala que era trancada às 10 horas da noite (quando iam dormir). Antes disto, a porta ficava sempre aberta...

Numa outra casa, o proprietário era um motoqueiro “aposentado”. Sintonia total. Ligou para o filho, que morava a poucos quilometros dali, para trazer sua Harley modificada para eu dar uma volta...

Numa outra casa, ficamos no andar superior, onde havia 2 quartos, um banheiro, e no hall uma geladeira pequena com cerveja, vinho e refrigerante. Ao lado, uma mesinha bem arrumadinha, com vaso de flores, copos, talheres, muffins e chocolates, uma lista de preços e uma caixinha de moedas. Você pegava o que queria, pagava e, se precisasse havia moedas para o troco.

Que jornada! Que trilha maravilhosa! Que exemplo de organização e beleza, mantida pelo cidadão para o bem estar da coletividade.

O verdadeiro desenvolvimento social não é percebido pelo PIB, taxa de desemprego ou escolaridade. Segundo Fernando, o melhor é uma caminhada...

Será que um dia teremos a coragem de entregar as chaves de nossas casas para mochileiros desconhecidos?



sexta-feira, 3 de julho de 2009

Eleições, Vida e Morte


A perspectiva da morte torna insignificante as disputas cotidianas.

A vida, de repente, tem outra dimensão, a escala de valores se altera a tal ponto que conseguimos enxergar nossos problemas com isenção e sentir que, não eram problemas de verdade ou não eram, de forma alguma, graves.

A perspectiva da morte dá a verdadeira noção do significado da vida.

Qualquer candidato a qualquer cargo eletivo, deveria ter a personalidade de um “twice born” de William James, descrita no seu livro “The Varieties of Religious Experience”.

As pessoas “nascidas duas vezes” não tiveram uma vida fácil ou linear. Suas vidas foram marcadas por uma contínua luta para obtenção de um senso de ordem e identidade. Suas visões de mundo são bem diferentes das pessoas “nascidas uma vez”.

Para os “nascidos duas vezes” o senso do eu deriva de um sentimento de profunda separação.

O sentimento de “pertencer” é uma característica das pessoas nascidas uma vez. “Se alguém se sente como membro de instituições, contribuindo para o seu desenvolvimento, então esta pessoa preenche uma missão na vida e sente recompensada por ter um ideal. Esta recompensa transcende ganhos materiais e responde ao mais fundamental desejo de integridade pessoal que é obtido pela identificação com a instituição existente.

Líderes tendem a ser do tipo com personalidade ´nascido duas vezes´, pessoas que se sentem separadas de seus ambientes, incluindo outras pessoas. Eles podem trabalhar em organizações, mas nunca pertencem a ela.

O senso do que eles são não depende de “ser membro, afiliado”, regras de trabalho, ou outro indicador de identidade social.

O que parece surgir desta idéia de separação é alguma base para explicar porque certos indivíduos procuram oportunidades para mudança. A mudança pode ser em qualquer área, mas o objeto é o mesmo: alterar profundamente as relações humanas, econômicas, e políticas.

Líderes adotam uma atitude pessoal e ativa com relação às metas. Eles são ativos em vez de reativos, eles formulam ou moldam idéias em vez de responder a elas. A influência que os líderes exercem na alteração do estado de espírito, evocando imagens e expectativas, e estabelecendo desejos e objetivos específicos determinam a direção que o negócio toma. O resultado desta influência é mudar o modo das pessoas pensarem sobre o que é desejável, possível e necessário”.

Políticos e Reitores não podem ser simples “gestores nascidos uma vez”. Atributos como honestidade e integridade são tão básicos como saber ler e escrever e não os qualificam a se candidatarem a tal posto.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Ghandi estava errado?


Quem faz menos do que pode, está roubando?

Walter está de volta aos States. O trio, filhos de Bias e da cerveja, virou novamente uma dupla.

Fernando pega uma faca com a mão direita e ergue seu copo, quase cheio, com a mão esquerda. Se levanta desajeitadamente arrastando a cadeira de madeira da nossa querida e sempre lotada pizzaria. Diz em voz teatral, batendo insistentemente no copo para chamar atenção: “Proponho um brinde”. Silêncio. Alguns risos de espanto e sua voz ecoa alto: Proponho um brinde ao Brasil. Este país de ladrões!”.

Após a eternidade de 2 segundos de paralisia e silêncio, a pizzaria volta ao normal, o movimento, o tintilar de talheres e a sinfonia de vozes e risos...

“Que foi isto?” Pergunto, puxando Fernando de volta ao seu lugar.

“Um brinde. Ficou claro que Gandhi errou. Quem não faz o que deve, é quem rouba. Então este é um país de ladrões. Acabamos de discutir como temos tantos gerentes, diretores, reitores, assessores e principalmente políticos gastam tempo e energia se articulando, se promovendo, fazendo conluio e intrigas, em vez de construir o diálogo, de escutar, de alinhar as pessoas em torno de um objetivo comum. Liderar é servir. Quanta falta de visão... Nossa visão de mundo determina nossas ações no presente e nosso destino no futuro.”

“Coragem. Brindo com você, porque sei e vivo o que fala. Tim-tim”.

“Lembra do último sábado? ‘Carrego comigo todos os meus bens . Nossos bens são nossos pensamentos, nossas emoções e principalmente, nossos valores que, alias ficam cada vez mais valiosos diante de tanta baixaria, vileza, e insignificância metafísica de nossos gestores’ .

Lembrei do meu avô Caetano: “Perdoe e Esqueça. Eles não sabem o que deveriam saber.”

Para meu próprio espanto e vergonha, agora sou eu quem se levanta e grita:

“Um viva pró avô Caetano”. (Quem disse que umas cervejinhas fazem mal...)