terça-feira, 30 de setembro de 2025

O Enigma

 


Ah, o Paradoxo de Epicuro! Como pesa nos ombros peregrinos

Enquanto caminho por estas terras de Santiago

Um Deus todo-poderoso, todo-sábio, todo-bom

E ainda assim, o mal persiste, implacável


Sinto o peso de cada passo, de cada pedra no caminho

Como sinto o peso desta questão milenar

Se Ele pode, se Ele sabe, se Ele quer eliminar o mal

Por que, por que, ainda sofremos?


Meu amigo Hugo fala de livre-arbítrio

De Deus que nos dá a liberdade de escolher

Mesmo que isso signifique dor e destruição

Um preço alto demais pela nossa autonomia ?


Mas eu olho para o chão sob meus pés

Para as pessoas que cruzam meu caminho

O mal não vem dos céus, grito em silêncio

Nasce da terra, da desigualdade, da própria natureza humana


Ah, como é fácil culpar os deuses!

Como é confortável apontar para o alto

Quando o verdadeiro culpado nos encara no espelho

Quando a resposta está em nossas próprias mãos


Caminho e penso, penso e caminho

O Paradoxo de Epicuro ecoa em cada passo

Não há consenso, não há resposta única

Apenas a certeza de que o debate continua


E eu, peregrino de ideias e de estradas

Sigo em frente, carregando o peso desta questão

O mal existe, sim, mas não nos céus

Está aqui, entre nós, em nós


Que os deuses nos perdoem pela nossa arrogância

De culpá-los por nossas próprias falhas

O verdadeiro enigma não está no divino

Mas no humano, tão humano


E assim, sigo meu Caminho de Santiago

Com o Paradoxo de Epicuro como companheiro silencioso

Buscando não respostas, mas compreensão

Do mal, do bem, e de tudo que há entre eles.

Montanari

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

O Peregrino da Simplicidade

 


Vaguei por estradas de pedras e sonhos,

Carregando nas costas o peso de ilusões douradas.

Mas foi no caminhar que despi a alma,

E vi a verdade nua diante de mim.


Não há ouro que compre o bater do vento na rosto,

Nem fortuna que se compare ao riso franco de um companheiro.

O pão dividido sabe a gratidão,

E a felicidade esconde-se nos gestos mais simples.


Ah, como são tolos os que buscam fora

O que só pode brotar de dentro deles mesmo!

Correm, afobados, atrás de miragens,

Enquanto a vida verdadeira escorre por entre os dedos.


Sinto o pulsar do mundo nas pequenas coisas,

No grão de areia, nas gotas da chuva, no suspiro do vento.

E compreendo, enfim, que a riqueza maior

É saber ver a grandeza na simplicidade.


Sou eu, peregrino metido a poeta, o mais afortunado dos homens,

Pois aprendi a ler a eternidade nos instantes,

E a encontrar o infinito nos passos da jornada.

A vida simples é meu tesouro, minha conquista suprema.

Montanari


quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Ecos de uma Amizade

 


Eu e Motta, ainda jovens fizemos um pacto,

Tão simples quanto o correr do sangue.

Não precisávamos de palavras grandiosas,

Apenas da verdade de estarmos juntos.


Bebíamos cerveja e falávamos de coisas,

Como quem olha o céu e vê nuvens passar.

A música nos embalava, natural como o vento,

Sem precisarmos entender, só sentir.


Pensávamos na velhice como quem pensa no amanhã,

Sem pressa, sem medo, apenas existindo.

A despedida veio como vem a noite,

Inesperada, mas parte do que é real.


Escolhemos músicas para o fim,

Como quem escolhe flores num campo.

Mas a morte não segue nossas listas,

Ela vem como vem a chuva ou o sol.


Meu amigo partiu antes da música tocar,

Como uma folha que cai antes do outono.

Sigo, pois seguir é o que fazemos,

Como o rio que corre sem questionar.


Vivo cada dia como se fosse único,

Não por medo, mas por ser verdade.

A música da vida toca sempre,

Basta estar atento para ouvi-la.


Montanari

Lembrando do nosso acordo de quem adoecesse gravemente primeiro deveria fazer o outro ouvir sua 'música escolhida' para aquele momento final…

Mesmo que estivesse com  Alzheimer ou em coma” e nada lembrasse. 

Ele havia escolhido “Gloria" de Vivaldi e eu  Réquiem de Mozart.  Infelizmente, sua morte repentina não permitiu cumprir minha parte do trato…

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Os 10 mandamentos e meu avô

 

Meu avô era uma pessoa extremamente humana. Faleceu quando eu ainda era adolescente. Aprendi muito com ele. Um dia veio com um manuscrito e me perguntou: "Você conhece os 10 mandamentos?”. 

Eu respondi que sim. Ele me disse para esquecer os que conhecia e me entregou "OS NOVOS 10 MANDAMENTOS”:


1- Se esforce para ser considerado uma pessoa legal e divertida.

Nos relacionamentos, não conseguir enxergar os outros é sinal de mediocridade e inferioridade no desenvolvimento pessoal.

2- Você tem liberdade para fazer o que quiser desde que não prejudique outras pessoas, a natureza e a sociedade.

3-  Se beber, não dirija.

4-  Não fume nem consuma drogas.

5-  Não coma em excesso e faça exercícios regularmente. 

Malhar melhora a auto-estima e reduz o custo social agregado pela redução da qualidade de vida.

6- Recicle e consuma menos supérfluos. 

Economize água e energias. Não vire um consumista. Menos é mais. O preço pelo consumo irresponsável é sempre pago com juros pelas próximas gerações.

7- Não tenha mais do que 2 filhos seus. Tem gente demais neste planeta.

8- Não fique alheio ao que acontece ao seu redor. Participe. Nunca se omita.

9- Não siga nenhuma religião, partido político ou mandamento se, de alguma forma, prejudicar alguém. Lembre-se: Os fins não justificam os meios.

10- Ignore completamente os babacas. 

Babacas não adotam valores adequados para uma vida em harmonia com o meio ambiente e com a sociedade. Eles estão num estágio de subdesenvolvido “Humano”. 

Cuidado, a ignorância é a maior ameaça ao desenvolvimento da Humanidade.

Montanari

2025

Relembrando os ensinamentos de meu avô e a promessa que iria cumpri-los.


sábado, 20 de setembro de 2025

Sessenta anos - Paris



Em Charles de Gaulle, um chapéu preto nos esperava 

Era Fernando, que surpresa, notícia inesperada

Sua querida Carolina ausente, seminário na Suíça 

Marlene, ficou triste, mas a vida compensa

O bistrô reservado para nós 3 promete


A cidade-luz monumental nos encanta

Intrigante e romântica, como pintou

Woody Allen em Meia Noite em Paris 

Única, pulsante, nosso novo amor


Fernando, pontual às sete, o sol ainda flertando 

O chapéu preto agora é meu, que sorte

Numa viela, uma porta verde e austera

Les Nymphéas em Giverny, fechada


Fernando bete na porta, dúvida e expectativa

Luzes se acendem, vozes explodem em coro

"Surprise!" gritam, Carolina sorri.

"Joyeux anniversaire, félicitations et courage"  


Uma faixa me saúda em francês

Emoção transborda, não há como conter

Sessenta anos, um rito, um recomeço

Novas aventuras, há tanto para viver


Paris conspirou, Fernando planejou

A imaginação supera o conhecimento

Neste aniversário que o tempo marcou

A vida prova: há sempre um novo momento


Montanari, 2012,


sexta-feira, 19 de setembro de 2025

A magia dos falsos profetas

 



Ah! espetáculo grotesco da atual política televisionada!

Como pode a multidão inculta, não ver o engodo?

Funcionários públicos, outrora íntegros, agora cúmplices do crime,

Lavando dinheiro sujo nas fontes da burocracia!


E  aqueles que se consideram seguidores de Cristo

Defendem o uso de armas e aceitam a guerra de Gaza?

Apoiam corruptos, aplaudem torturadores,

Cujas mãos, antes em prece, agora manchadas de sangue!


Patriotas! Que ironia! Alienados da própria pátria,

Cegos por bandeiras de outros países que não representa o povo.

E aqueles, humilhados e pobres, que contradição!

Votam nos que os oprimem, nos que os roubam o pão.


Ah, pastores! Como caíram tão baixo?

Vendem a salvação como mercadoria barata,

Trocam o púlpito pela urna, a Bíblia pelo panfleto,

Entoam cânticos que hipnotizam as massas cegas.


Redes sociais! Teias de aranha digital

Que aprisionam os explorados, os marginalizados,

Alinhando-os como soldadinhos de chumbo

Na grande farsa da democracia virtual.


E os eleitores! Como podem ser tão ingênuos?

Acreditam serem inocentes nesta crise que os devoram,

Enquanto os falsos profetas, os políticos-messias,

Vendem a ilusão de uma pátria redimida.


Não! Eu não sigo esta maioria demente!

Minha vida de peregrino metido a poeta, incompreendida,

Empurra-me para longe desta farsa colossal.

Sinto em cada verso, em cada rima rebelde,

O peso desta falsidade que me sufoca,

Que me faz gritar em silêncio contra esta loucura!


Quando o Brasil, e o mundo atual acordarão

Deste pesadelo camuflado  de salvação?

Eu, professor aposentado metido a poeta,

Observo, registro e denuncio esta insanidade!

Pois só a poesia, em sua loucura lúcida,

Pode desmascarar os mágicos ditadores

Que enfeitiçam as massas com promessas vãs!


Montanari